São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Os idos de março

DAVOS - Há uma data, o 10 de março, assombrando a América Latina -ainda que dela pouco se fale. Trata-se do dia em que a Argentina terá de pagar US$ 3,2 bilhões ao Fundo Monetário Internacional.
Não é que a Argentina não possa pagar, até porque o dinheiro lhe será devolvido pelo próprio Fundo, como parte do acordo entre as partes. O problema está em que a liberação dessa parcela, para que se faça o pagamento ao Fundo, depende de uma avaliação da instituição internacional sobre alguns aspectos da política argentina.
Pelo que a Folha ouviu de funcionários de primeiro escalão de organizações internacionais, o que conta nesse exame a que se submeterá a Argentina é, a rigor, só uma coisa: o bom andamento ou a boa disposição para negociar com os credores de títulos argentinos, que não recebem desde a moratória de 2001.
Se os técnicos do Fundo acharem que não há negociação ou vontade de negociar seriamente, recomendarão a não-liberação da parcela, e a Argentina não pagará os US$ 3,2 bilhões. E o Brasil com isso? Pode ser que não aconteça nada.
Mas pode ser também que seja vítima, como ocorreu em crises anteriores, da indiferenciação: os investidores são informados de que houve problemas com um país lá de baixo e fogem de todos eles.
Talvez seja esse exame que esteja por trás de sucessivos discursos do presidente Néstor Kirchner denunciando pressões dos credores e dos organismos internacionais, repetindo a sua frase favorita, segundo a qual não vai pagar a dívida à custa do crescimento da economia e, portanto, do emprego dos argentinos e por aí afora.
Esse discurso foi feito primeiro na cúpula do Mercosul em Montevidéu (dezembro) e repetido, depois, na Cúpula Extraordinária das Américas, em Monterrey, neste mês. Ninguém fora da Argentina entendeu direito o tom dramático. Talvez se descubra em março, para susto de todos.



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