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CLÓVIS ROSSI
Os idos de março
DAVOS - Há uma data, o 10 de março, assombrando a América Latina
-ainda que dela pouco se fale. Trata-se do dia em que a Argentina terá
de pagar US$ 3,2 bilhões ao Fundo
Monetário Internacional.
Não é que a Argentina não possa
pagar, até porque o dinheiro lhe será
devolvido pelo próprio Fundo, como
parte do acordo entre as partes. O
problema está em que a liberação
dessa parcela, para que se faça o pagamento ao Fundo, depende de uma
avaliação da instituição internacional sobre alguns aspectos da política
argentina.
Pelo que a Folha ouviu de funcionários de primeiro escalão de organizações internacionais, o que conta
nesse exame a que se submeterá a Argentina é, a rigor, só uma coisa: o
bom andamento ou a boa disposição
para negociar com os credores de títulos argentinos, que não recebem
desde a moratória de 2001.
Se os técnicos do Fundo acharem
que não há negociação ou vontade
de negociar seriamente, recomendarão a não-liberação da parcela, e a
Argentina não pagará os US$ 3,2 bilhões. E o Brasil com isso? Pode ser
que não aconteça nada.
Mas pode ser também que seja vítima, como ocorreu em crises anteriores, da indiferenciação: os investidores são informados de que houve problemas com um país lá de baixo e fogem de todos eles.
Talvez seja esse exame que esteja
por trás de sucessivos discursos do
presidente Néstor Kirchner denunciando pressões dos credores e dos organismos internacionais, repetindo a
sua frase favorita, segundo a qual
não vai pagar a dívida à custa do
crescimento da economia e, portanto,
do emprego dos argentinos e por aí
afora.
Esse discurso foi feito primeiro na
cúpula do Mercosul em Montevidéu
(dezembro) e repetido, depois, na Cúpula Extraordinária das Américas,
em Monterrey, neste mês. Ninguém
fora da Argentina entendeu direito o
tom dramático. Talvez se descubra
em março, para susto de todos.
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