São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A reforma de Lula

BRASÍLIA - Lula começa hoje sua visita à Índia deixando aqui no Brasil um rastro de comemorações entre peemedebistas e de lamentações entre petistas. Mas ele não tinha alternativa: era fazer ou fazer alguma reforma no ministério original. Se vai dar certo, são outros quinhentos.
Os três eixos da primeira reforma ministerial do governo Lula foram: incluir o PMDB para ter mais tranqüilidade no Congresso e facilitar acordos regionais; desafogar José Dirceu na Casa Civil para controlar melhor programas e ministérios; trocar ministros que não funcionavam por outros com chance de funcionar. Em resumo, foi uma reforma política e administrativa.
Salvaram-se pelo gongo Berzoini (com alguma justiça), Olívio Dutra (por pressão política), Agnelo Queiroz (por desimportância) e Anderson Adauto (inexplicável).
Lá se foram os que não deram certo, como Benedita, Graziano e Roberto Amaral -curiosamente, os mais magoados. Lá se foram outros que não vão fazer falta, como Miro Teixeira e Emília Fernandes. E lá se foi um que não tem a simpatia de Lula nem laços sólidos no PT. De quebra, nunca conseguiu mostrar a que veio: Cristovam Buarque.
A demissão de Benedita durou menos de dez minutos, a de Graziano acabou em lágrimas e a de Buarque foi um vexame. Ele foi demitido primeiro pelas manchetes e só depois pelo próprio Lula -por telefone.
Podia ser melhor, mas são ossos do ofício. "Lulinha Paz e Amor" foi um bom personagem de campanha. Lula presidente é real e tem de ser racional. Petistas e velhos companheiros devem detestar, mas a prioridade é a eficiência. Ou a busca dela.
O ministro Márcio Thomaz Bastos, que entrou mudo e saiu calado da reforma, recorre a De Gaulle para defender Lula: a maior virtude do governante é a ingratidão. Lula aprendeu. Agora é torcer para que a ingratidão sirva para alguma coisa, como dar mais ritmo, mais consistência e mais eficiência ao governo. Até aqui, esses não têm sido os seus fortes.



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