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ELIANE CANTANHÊDE
A reforma de Lula
BRASÍLIA - Lula começa hoje sua visita à Índia deixando aqui no Brasil
um rastro de comemorações entre
peemedebistas e de lamentações entre petistas. Mas ele não tinha alternativa: era fazer ou fazer alguma reforma no ministério original. Se vai
dar certo, são outros quinhentos.
Os três eixos da primeira reforma
ministerial do governo Lula foram:
incluir o PMDB para ter mais tranqüilidade no Congresso e facilitar
acordos regionais; desafogar José Dirceu na Casa Civil para controlar melhor programas e ministérios; trocar
ministros que não funcionavam por
outros com chance de funcionar. Em
resumo, foi uma reforma política e
administrativa.
Salvaram-se pelo gongo Berzoini
(com alguma justiça), Olívio Dutra
(por pressão política), Agnelo Queiroz (por desimportância) e Anderson
Adauto (inexplicável).
Lá se foram os que não deram certo, como Benedita, Graziano e Roberto Amaral -curiosamente, os mais
magoados. Lá se foram outros que
não vão fazer falta, como Miro Teixeira e Emília Fernandes. E lá se foi
um que não tem a simpatia de Lula
nem laços sólidos no PT. De quebra,
nunca conseguiu mostrar a que veio:
Cristovam Buarque.
A demissão de Benedita durou menos de dez minutos, a de Graziano
acabou em lágrimas e a de Buarque
foi um vexame. Ele foi demitido primeiro pelas manchetes e só depois pelo próprio Lula -por telefone.
Podia ser melhor, mas são ossos do
ofício. "Lulinha Paz e Amor" foi um
bom personagem de campanha. Lula
presidente é real e tem de ser racional. Petistas e velhos companheiros
devem detestar, mas a prioridade é a
eficiência. Ou a busca dela.
O ministro Márcio Thomaz Bastos,
que entrou mudo e saiu calado da reforma, recorre a De Gaulle para defender Lula: a maior virtude do governante é a ingratidão. Lula aprendeu. Agora é torcer para que a ingratidão sirva para alguma coisa, como
dar mais ritmo, mais consistência e
mais eficiência ao governo. Até aqui,
esses não têm sido os seus fortes.
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