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CLÓVIS ROSSI
A economia e a fantasia
MADRI - É curiosa a interpretação segundo a qual um eventual enfraquecimento de José Dirceu representaria o fortalecimento de uma suposta direita do PT e do governo, encabeçada
pelo ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho.
Para ser certa, tal interpretação demandaria que houvesse uma esquerda, no governo e no PT. No partido,
até existe, mas está invisível e/ou muda. Não é comandada por Dirceu
nem, a rigor, por ninguém.
Se há reservas em relação ao desenho geral da política econômica, elas
vêm do ministro do Planejamento,
Guido Mantega, não de Dirceu. Se
existem críticas duras sobre um aspecto pontual (os juros obscenos),
elas vêm acima de tudo de Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), não de
Dirceu.
O enfraquecimento do chefe da Casa Civil, se de fato se produzir, o que
ainda está por ser visto, não enfraquecerá a esquerda, por inexistente
ou enquadrada, e sim o gerenciamento do governo, que foi delegado
pelo presidente, sem volta.
Mas a política econômica não está
em jogo nesse imbróglio. Ela não pertence a Palocci, mas a Lula, que a
"comprou" de seu ministro, cujo papel foi o de levar para o interior do
governo, ainda na fase de montagem,
o ensurdecedor coro segundo o qual
nada poderia ser mudado ou produzir-se-ia o caos.
Não há uma alternativa Dirceu à
política atual. O chefe da Casa Civil é
um operador político, e nada mais, o
que é um elogio para quem acha que
se trata de uma atividade que exige
notável habilidade e uma crítica para os que acreditam que, ao menos
nessa função, deveria estar não apenas um operador mas também um
formulador.
A alternativa à presente política
econômica não advirá, portanto, do
fortalecimento de Dirceu, mas de um
eventual fracasso, caracterizado por
crescimento insuficiente, baixa geração de emprego e/ou um abalo externo com repercussões internas.
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