São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A economia e a fantasia

MADRI - É curiosa a interpretação segundo a qual um eventual enfraquecimento de José Dirceu representaria o fortalecimento de uma suposta direita do PT e do governo, encabeçada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Para ser certa, tal interpretação demandaria que houvesse uma esquerda, no governo e no PT. No partido, até existe, mas está invisível e/ou muda. Não é comandada por Dirceu nem, a rigor, por ninguém.
Se há reservas em relação ao desenho geral da política econômica, elas vêm do ministro do Planejamento, Guido Mantega, não de Dirceu. Se existem críticas duras sobre um aspecto pontual (os juros obscenos), elas vêm acima de tudo de Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), não de Dirceu.
O enfraquecimento do chefe da Casa Civil, se de fato se produzir, o que ainda está por ser visto, não enfraquecerá a esquerda, por inexistente ou enquadrada, e sim o gerenciamento do governo, que foi delegado pelo presidente, sem volta.
Mas a política econômica não está em jogo nesse imbróglio. Ela não pertence a Palocci, mas a Lula, que a "comprou" de seu ministro, cujo papel foi o de levar para o interior do governo, ainda na fase de montagem, o ensurdecedor coro segundo o qual nada poderia ser mudado ou produzir-se-ia o caos.
Não há uma alternativa Dirceu à política atual. O chefe da Casa Civil é um operador político, e nada mais, o que é um elogio para quem acha que se trata de uma atividade que exige notável habilidade e uma crítica para os que acreditam que, ao menos nessa função, deveria estar não apenas um operador mas também um formulador.
A alternativa à presente política econômica não advirá, portanto, do fortalecimento de Dirceu, mas de um eventual fracasso, caracterizado por crescimento insuficiente, baixa geração de emprego e/ou um abalo externo com repercussões internas.


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