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CARLOS HEITOR CONY
A primeira pedra
RIO DE JANEIRO - Ainda bem que não sou assessor de coisa nenhuma,
nem bicheiro, autoridade ou político.
Passei o Carnaval em paz, sem necessidade de articular ou desarticular os
próximos lances da vida nacional.
Imagino a inquietação de uns e de
outros, procurando saídas ou entradas para o caso Waldomiro, que,
pouco a pouco, se está tornando o caso Dirceu. Sai, fica ou pede licença? E
a CPI, vai ou não vai? Se for, até onde?
Questões tão palpitantes seriam fáceis de serem resolvidas se os interessados do governo e da oposição tivessem realmente interesse no bem público e na moral ainda vigente. Mas,
como todos são políticos, uns esperam pelo que os outros vão fazer,
criam expectativas que os colunistas
do setor chamam de "cenários" e estabelecem linhas de ação e reação na
base de fulano fará isso e nós faremos
aquilo.
A mídia dará palpites, procurará
novos ou velhos podres de cada bando, será abastecida por informantes
suspeitos e fontes suspeitíssimas. Devida ou indevidamente abastecida,
por sua vez abastecerá a crise com
novos e velhos ingredientes e, como
desgraça de muitos consolo é, tudo ficará mais ou menos como antes. Até
a próxima crise.
O Carnaval dessa gente deu espaço
e tempo para qualquer tipo de solução, desde que a solução seja a menos
indolor possível, fazendo o estrago
naquilo que começou estragado. Vale
dizer: o Waldomiro ficará queimado
para sempre, ninguém era amigo dele, ninguém o nomeou para isso ou
aquilo, brotou do nada, como uma
estrela de milhões de anos-luz que só
agora é descoberta.
O PT irá levando -que mal há em
ser exatamente como todo mundo?
Frei Betto lembrará a cena de Cristo
com a adúltera: quem nunca pecou,
atire a primeira pedra. É possível que
Lula volte a sentir dores no ombro e,
para distrair a plebe, começarão os
primeiros rumores de que a prefeita
Marta Suplicy está tendo os primeiros entreveros com seu novo marido.
Não chegou a ser um Carnaval divertido, mas o melhor da folia é que,
na política, a festa dura muito mais.
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