São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

A primeira pedra

RIO DE JANEIRO - Ainda bem que não sou assessor de coisa nenhuma, nem bicheiro, autoridade ou político. Passei o Carnaval em paz, sem necessidade de articular ou desarticular os próximos lances da vida nacional.
Imagino a inquietação de uns e de outros, procurando saídas ou entradas para o caso Waldomiro, que, pouco a pouco, se está tornando o caso Dirceu. Sai, fica ou pede licença? E a CPI, vai ou não vai? Se for, até onde?
Questões tão palpitantes seriam fáceis de serem resolvidas se os interessados do governo e da oposição tivessem realmente interesse no bem público e na moral ainda vigente. Mas, como todos são políticos, uns esperam pelo que os outros vão fazer, criam expectativas que os colunistas do setor chamam de "cenários" e estabelecem linhas de ação e reação na base de fulano fará isso e nós faremos aquilo.
A mídia dará palpites, procurará novos ou velhos podres de cada bando, será abastecida por informantes suspeitos e fontes suspeitíssimas. Devida ou indevidamente abastecida, por sua vez abastecerá a crise com novos e velhos ingredientes e, como desgraça de muitos consolo é, tudo ficará mais ou menos como antes. Até a próxima crise.
O Carnaval dessa gente deu espaço e tempo para qualquer tipo de solução, desde que a solução seja a menos indolor possível, fazendo o estrago naquilo que começou estragado. Vale dizer: o Waldomiro ficará queimado para sempre, ninguém era amigo dele, ninguém o nomeou para isso ou aquilo, brotou do nada, como uma estrela de milhões de anos-luz que só agora é descoberta.
O PT irá levando -que mal há em ser exatamente como todo mundo? Frei Betto lembrará a cena de Cristo com a adúltera: quem nunca pecou, atire a primeira pedra. É possível que Lula volte a sentir dores no ombro e, para distrair a plebe, começarão os primeiros rumores de que a prefeita Marta Suplicy está tendo os primeiros entreveros com seu novo marido.
Não chegou a ser um Carnaval divertido, mas o melhor da folia é que, na política, a festa dura muito mais.


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