São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 2002

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PERVERSÃO E FÉ

Padres e pedofilia. A combinação é explosiva. A Igreja Católica tentou até onde pôde evitar o escândalo. Nesta semana, o papa João Paulo 2º se viu constrangido a divulgar um comunicado aos cardeais e bispos norte-americanos em que faz veemente condenação da pedofilia: "O abuso que provocou essa crise é, de acordo com qualquer critério, errado e corretamente considerado um crime pela sociedade; é também um terrível pecado aos olhos de Deus".
A crise a que se refere o papa é a onda de acusações de pedofilia contra padres católicos nos EUA. Desde janeiro, algumas dezenas de sacerdotes foram afastados de suas funções. Bispos estão sendo severamente criticados por acobertar religiosos. A Igreja Católica norte-americana já teria gasto algumas centenas de milhões de dólares em acordos secretos para indenizar vítimas de padres.
O fenômeno não está restrito aos EUA. Nos últimos anos, registraram-se várias dezenas de casos na Europa. No Brasil, pelo menos um sacerdote já foi condenado e há investigações em curso.
Embora a pedofilia seja um distúrbio psicossexual grave que pode acometer qualquer um, parece razoável acreditar que a concentração de pedófilos nas fileiras da igreja seja maior do que a verificada na população comum. Qualquer que seja a explicação para o viés, trata-se de uma doença. Não há consenso sobre o que a provoque e não se sabe se é possível falar em cura. O problema ganha contornos mais dramáticos quando se analisa a questão do ponto de vista da sociedade. Mesmo que se considerasse o pedófilo como um doente, incapaz de refrear seus impulsos e de responder judicialmente por suas ações, o Estado teria de tomar uma atitude em defesa da coletividade. As vítimas, vale lembrar, são crianças e jovens, altamente influenciáveis por adultos que ocupem posições como a de padre ou médico.
É possível que seja incorreto punir o pedófilo, mas a sociedade simplesmente não pode deixar de fazê-lo.


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