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CLÓVIS ROSSI
Silêncio quebrado (na França)
PARIS - No meio da autoflagelação
a que a França se dedica, a socialista
Ségolène Royal teve um raro momento de recaída no "grandeur" ao
dizer no discurso de domingo:
"Quando a França encontra uma
grande idéia, elas fazem juntas a
volta ao mundo".
Não sei se ainda é assim, mas um
dos grandes homens de idéias da
França, o notável sociólogo Edgar
Morin, parece ter aceitado o desafio
de madame Royal: lançou ontem,
na página de "Debates" do "Monde", não uma só idéia mas uma coleção delas. Seria irresponsável resumi-las aqui, porque contêm propostas para o mundo, para a Europa e,
obviamente, para a França, com começo, meio e fim.
Mas o diagnóstico é fácil de sintetizar e, a meu ver, irretocável. "Nossa civilização está em crise. Aonde
chegou, o bem-estar material não
trouxe necessariamente o bem-estar mental, do que dão testemunho
o consumo desenfreado de drogas,
ansiolíticos, antidepressivos, soníferos. O desenvolvimento econômico [...] trouxe muito freqüentemente a degradação das solidariedades,
a burocratização generalizada, a
perda de iniciativa, o medo da responsabilidade".
Nas últimas linhas, Morin parece
estar falando do Brasil atual. O eixo
da proposta do sociólogo é "revitalizar a fraternidade, subdesenvolvida
na trilogia republicana Liberdade-Igualdade-Fraternidade. De saída,
eu suscitaria a criação de Casas da
Fraternidade nas diferentes cidades e nos bairros de metrópoles como Paris".
Fechado, Morin, embora duvide
que o mundo moderno, dominado
pelos mercados, dê espaço para a
fraternidade.
Mas pensar grande já é algo, ainda mais se se comparar com a maioria de seus colegas brasileiros, que,
ou se calam, ou defendem partidos
em vez de idéias, ou inventam descerebradas teorias da conspiração.
O texto de Morin está em
www.lemonde.fr/web/article/0,1-0,36-901079,0.html.
crossi@uol.com.br
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