São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Silêncio quebrado (na França)

PARIS - No meio da autoflagelação a que a França se dedica, a socialista Ségolène Royal teve um raro momento de recaída no "grandeur" ao dizer no discurso de domingo: "Quando a França encontra uma grande idéia, elas fazem juntas a volta ao mundo".
Não sei se ainda é assim, mas um dos grandes homens de idéias da França, o notável sociólogo Edgar Morin, parece ter aceitado o desafio de madame Royal: lançou ontem, na página de "Debates" do "Monde", não uma só idéia mas uma coleção delas. Seria irresponsável resumi-las aqui, porque contêm propostas para o mundo, para a Europa e, obviamente, para a França, com começo, meio e fim.
Mas o diagnóstico é fácil de sintetizar e, a meu ver, irretocável. "Nossa civilização está em crise. Aonde chegou, o bem-estar material não trouxe necessariamente o bem-estar mental, do que dão testemunho o consumo desenfreado de drogas, ansiolíticos, antidepressivos, soníferos. O desenvolvimento econômico [...] trouxe muito freqüentemente a degradação das solidariedades, a burocratização generalizada, a perda de iniciativa, o medo da responsabilidade".
Nas últimas linhas, Morin parece estar falando do Brasil atual. O eixo da proposta do sociólogo é "revitalizar a fraternidade, subdesenvolvida na trilogia republicana Liberdade-Igualdade-Fraternidade. De saída, eu suscitaria a criação de Casas da Fraternidade nas diferentes cidades e nos bairros de metrópoles como Paris".
Fechado, Morin, embora duvide que o mundo moderno, dominado pelos mercados, dê espaço para a fraternidade.
Mas pensar grande já é algo, ainda mais se se comparar com a maioria de seus colegas brasileiros, que, ou se calam, ou defendem partidos em vez de idéias, ou inventam descerebradas teorias da conspiração. O texto de Morin está em www.lemonde.fr/web/article/0,1-0,36-901079,0.html.


crossi@uol.com.br

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