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TRABALHADOR INVESTIDOR
Aprovada pelo Congresso e regulamentada pelo Executivo no ano passado, a possibilidade de que até 50%
das contas do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço sejam investidas
em privatizações visa a cobrir até R$
6 bilhões do rombo no FGTS.
De modo geral, é positivo que as
privatizações sejam destinadas a abater a dívida pública. Mas, assim como o recebimento de moedas podres, o uso do FGTS é obviamente
menos conveniente para o Estado do
que a venda de estatais em dinheiro.
Para que a medida seja concretizada, falta apenas que a CVM regulamente os fundos de investimento que
administrarão as ações. A retomada
do tema pelo novo ministro do Planejamento pode ser interpretada pelo menos de duas maneiras.
Os quatro meses de demora desde o
decreto presidencial decorreram dos
cuidados que devem ser dispensados
à regulamentação de uma medida
que tende a trazer vantagens, mas
também expõe a poupança do assalariado aos riscos do mercado de capitais. É o que sustenta a responsável
pela regulamentação dentro da CVM.
Outra interpretação é que o governo
tenha ficado em dúvida quanto a
abrir mão de recursos à vista nas desestatizações, mas agora tenha passado a considerar que convém habilitar mais moedas de privatização, dado o grande volume de estatais à venda em um curto período.
Seria ingenuidade ignorar ainda
que a pulverização de ações das estatais pode trazer benefícios políticos
aos atuais governantes. As contas do
FGTS rendem juros de 3% ao ano
mais a variação da TR. É natural que
as ações das grandes empresas privatizadas pareçam mais atraentes. Os
eleitores beneficiados tendem a recompensar aquele governo que lhes
proporcionou lucro.
Mas, sejam quais forem os motivos,
a iniciativa parece razoável. Não está
claro se haverá recursos à vista para
todas as privatizações deste ano. E é
melhor que o Estado utilize a desestatização para eliminar dívidas do
que para realizar novos gastos.
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