São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Independência e solidão

SÃO PAULO - É dura a vida de jornais e de jornalistas que tentam ser independentes. Ninguém acredita.
Anos atrás, um bom amigo meu, que me conhece o suficiente para saber que não tenho carteirinha de partido nenhum nem sou fã incondicional de candidato nenhum (então como agora), já dizia: "Como a Folha não tem candidato, se todos têm?".
Eleição após eleição, a história se repete. "Tucanos" acham a Folha petista, rótulo que estendem, inexoravelmente, a quem põe a cara para bater assinando textos no jornal.
Petistas dizem, ao contrário, que a Folha está com José Serra. Ciro Gomes acusou o jornal de governismo na sabatina da semana passada.
Anthony Garotinho conseguiu a mágica de acreditar que a Folha apóia a um só tempo José Serra e Lula, sem levar em conta que o campeonato eleitoral só permite um ganhador, o que significa que, ou se apóia Lula para derrotar Serra, ou se apóia Serra para derrotar Lula, ou se corre o risco de perder com ambos.
Mas o mais grave nessa batalha pela independência nem é a incompreensão. É a solidão. Hoje por hoje, até que o restante da mídia soltou razoavelmente suas amarras. Problemas ainda existem, às vezes graves, mas nada que se compare às canalhices praticadas, por exemplo, na campanha de 1989.
A solidão se dá em relação aos analistas, aos acadêmicos. É quase impossível conseguir conversar com algum especialista sem temer que suas opiniões estejam enviesadas por preferências eleitorais ou, pior, por preconceitos contra um candidato.
Nos Estados Unidos, o Serviço de Pesquisa do Congresso produz magníficos dossiês sobre os mais diferentes temas, internos e externos, com uma linha inviolável (sob pena de demissão): não pode ter viés pró-republicano ou pró-democrata.
Ajudaria muito o próprio candidato se pudesse ter a segurança de que palpites externos dizem respeito à realidade, não à preferência (ou preconceito) eleitoral do analista.


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