São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O Lulinha paz e amor

BRASÍLIA - Perguntaram ao novo Lula, em Rio Branco (AC), sobre a troca de desaforos entre José Serra e Ciro Gomes. Ele respondeu que isso era problema dos dois e que estava fora: "Lulinha quer paz e amor".
Parece apenas mais uma saída bem-humorada de Lula diante do mau humor crônico de Ciro e do mau humor disfarçado de Serra na campanha. Mas é bem mais do que isso. É a essência da tática petista para passar docemente pelo primeiro turno e reunir cacos, mágoas, iras e dissidentes alheios no segundo.
Quanto mais Serra diz que Ciro é mentiroso e destemperado, mais Lula se afirma. Quanto mais Ciro chama os outros de "burros", "podres", "pilantras" e manda o mercado "se lixar", mais Lula ri. Ri e fecha a boca, para não repetir os erros do início do semestre, quando falou uma bobagem atrás da outra. Agora é hora de os adversários falarem bobagens. De preferência um contra o outro.
Lula está na quarta eleição para presidente -quarta e última. É agora ou nunca. As circunstâncias, a maturidade do PT, a experiência em campanhas, uma pitada de humildade e montes de pragmatismo vêm dando certo. As condições são favoráveis a Lula desta vez.
Isso, é claro, não significa que a vitória de Lula esteja escrita nas estrelas, nem mesmo nas estrelas do PT. Mas, do jeito que as coisas vão, Garotinho bateu no teto, Serra não anda, só patina, e Ciro chega à reta final do primeiro turno mostrando uma mistura de destempero pessoal com desarrumação política da campanha.
A chance de Lula, que tem maior rejeição, é Ciro ser tragado pelos próprios erros. A chance de Ciro é ser um candidato melhor do que a própria candidatura, com a grande maioria do eleitorado pobre e mal informado não percebendo o que os mais escolarizados começam a rejeitar.
Os holofotes, portanto, continuam em Ciro: ou ele mingua ou, ao contrário, vira um rolo compressor sobre tudo, todos e Lula. Que não tem muito o que fazer, a não ser ficar bem quieto e ser o Lulinha paz e amor.


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