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CARLOS HEITOR CONY
A dor de cada um
RIO DE JANEIRO - Creio que Antônio Olinto é o autor mais abrangente de nossa literatura -ia dizer prolífico,
mas não gosto da palavra. Ele se expressa, sempre à vontade, no romance, na poesia, no conto, no ensaio, na
crítica e até mesmo na reportagem,
pois tem anos de estrada na imprensa brasileira.
Durante anos, manteve a coluna literária mais influente do seu tempo,
quando teve a oportunidade de saudar os escritores que surgiram nos
anos 50, entre os quais Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
Contudo sua pole-position é o romance. Autor de uma trilogia famosa sobre coisas e gentes africanas, romances que foram traduzidos em
quase todas as línguas que importam, ele sabe contar uma história,
criar um tipo, evocar uma paisagem
ou uma situação.
""A dor de cada um" é um livro temático proposto por uma editora que
lançará uma série de romances em
que a personagem principal é uma
profissional da saúde. No caso, uma
enfermeira.
Ela tem a mesma origem que encontramos em outros textos de ficção
do autor: aquela zona de Minas Gerais, vizinha a Juiz de Fora, que inclui a terra natal de Olinto, a Ubá cujo cinema era de seu pai.
Dotada de uma qualidade que poderia ser chamada de ""dom", ela não
vê a doença nos outros, mas a sente
-e seu sucesso como enfermeira a
torna um ícone no setor.
Introspectiva, de quando em quando ela se retira para a solidão de sua
cidadezinha provinciana e pensa.
Desde menina, ela via que uma paineira, junto ao rio, andava alguns
centímetros por ano. Torna-se escritora -e aqui me detenho, para não
prejudicar o leitor antecipando a história. Seu novo romance é a história
da dor de cada um, da dor que pode
ser de todos, mas que será sempre
mitigada pela dedicação de pessoas
sensíveis que aprenderam a olhar e
descobrem que as árvores andam.
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