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ALCINO LEITE NETO
A última que morre
SÃO PAULO - É antigo o namoro do PT com a Internacional Socialista,
reunião de 150 partidos de esquerda
do mundo. O PT, porém, nunca aderiu à IS, que, no Brasil, tem como único associado o declinante PDT.
Em 1982, quando Lula ainda tinha
as barbas pretas, o então líder sindical foi taxativo: "No PT, nós não nos
preocupamos em estabelecer compromissos com nenhuma das internacionais existentes. Aliás, enquanto
estivermos em fase de crescimento, as
questões ideológicas não poderão ser
colocadas em sua amplitude, no PT".
O PT deixou a fase de crescimento,
mas as questões ideológicas talvez
nunca tenham sido postas "em sua
amplitude" no partido, que, por isso
mesmo, chegou à Presidência exercendo-a de modo tão heterodoxo.
Na próxima semana, o Brasil abrigará pela primeira vez um congresso
da IS. Várias lideranças de esquerda
desembarcarão em São Paulo.
Antes das eleições brasileiras,
quando os socialistas mandavam na
Europa, Lula foi até lá buscar apoio à
sua candidatura. Hoje, porém, os socialistas europeus pregam no deserto.
Nas eleições francesas de 2002, por
exemplo, tiveram 13% dos votos
-uma derrota humilhante para o
então premiê Lionel Jospin e que
abriu imensa crise no PS francês.
O discurso da Internacional Socialista envelheceu e já não responde às
demandas das sociedades individualistas complexas nem à necessidade
de novas formas de solidariedade política. Não é à toa que o 22º congresso
da IS acontecerá no Brasil. Fora a
China "comunista", o Brasil é o
maior país do mundo governado em
tese pela esquerda, e é grande a expectativa de que o Partido dos Trabalhadores ajude a renovar as esperanças socialistas no mundo.
Mas é provável que o PT participe
do encontro como se fosse a um congresso de arqueologia. Lula foi eleito
sem erguer a bandeira socialista -e
a maioria dos eleitores julga mesmo
que ele seja de direita (pesquisa Datafolha). Associar o PT ao socialismo
antes das eleições municipais pode
ser uma forma de suicídio. A nossa é
uma verdadeira esquerda morena.
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