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CLÓVIS ROSSI
Impressões e caras
SÃO PAULO - Dizia-se antigamente que a primeira impressão é a que fica. Nos tempos modernos, hipervelozes, a primeira impressão fica, sim,
mas na pré-história.
Pelo menos no caso do ministério
de Luiz Inácio Lula da Silva, ficou esquecida a sensação de que o núcleo
da equipe econômica era uma espécie de era tucana bis. Vale a impressão de que o gabinete tem a cara do
PT, o que, de resto, é numericamente
correto: um pouquinho mais da metade dos ministros de Lula é do partido que ganhou a eleição (16 em 29).
Mas suspeito que essa impressão
não durará muito. É verdade que o
ministro designado da Fazenda, Antonio Palocci, já disse à Folha que é
preciso olhar para outros ministérios, além da Fazenda, para se ter
uma visão abrangente do governo
Lula.
Mas, pelo menos no início, acabará
prevalecendo mesmo a economia.
Jacques Wagner, de repente, é o melhor ministro do Trabalho que o Brasil poderia ter, mas se o dólar continuar subindo, se a inflação também
engordar, se os juros continuarem lá
em cima e se, em consequência, a atividade econômica se mantiver meio
anêmica, ninguém vai falar no nome
dele ou no de Cristovam Buarque ou
no de Humberto Costa etc.
O que se dirá do governo Lula, no
começo, estará determinado pelas
ações (ou omissões) de Antonio Palocci, um petista histórico transformado em arquimoderado a ponto de
já nem parecer petista, e de Henrique
Meirelles, um banqueiro histórico
transformado em, bem, digamos, em
banqueiro central.
Quando se desenhou no horizonte
a vitória de Lula, há uns três meses,
pouco mais ou menos, a missão de
quem viesse a comandar a economia
era a de evitar um desastre, anunciado pelas dificuldades da situação
herdada e pela desconfiança dos
mercados financeiros.
O desastre, hoje, parece risco menor. Mas é bom deixar claro que apenas evitar o desastre não serve para
dar a um governo do PT a cara da
mudança pela qual votou a maioria.
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