São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Impressões e caras

SÃO PAULO - Dizia-se antigamente que a primeira impressão é a que fica. Nos tempos modernos, hipervelozes, a primeira impressão fica, sim, mas na pré-história.
Pelo menos no caso do ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, ficou esquecida a sensação de que o núcleo da equipe econômica era uma espécie de era tucana bis. Vale a impressão de que o gabinete tem a cara do PT, o que, de resto, é numericamente correto: um pouquinho mais da metade dos ministros de Lula é do partido que ganhou a eleição (16 em 29).
Mas suspeito que essa impressão não durará muito. É verdade que o ministro designado da Fazenda, Antonio Palocci, já disse à Folha que é preciso olhar para outros ministérios, além da Fazenda, para se ter uma visão abrangente do governo Lula.
Mas, pelo menos no início, acabará prevalecendo mesmo a economia. Jacques Wagner, de repente, é o melhor ministro do Trabalho que o Brasil poderia ter, mas se o dólar continuar subindo, se a inflação também engordar, se os juros continuarem lá em cima e se, em consequência, a atividade econômica se mantiver meio anêmica, ninguém vai falar no nome dele ou no de Cristovam Buarque ou no de Humberto Costa etc.
O que se dirá do governo Lula, no começo, estará determinado pelas ações (ou omissões) de Antonio Palocci, um petista histórico transformado em arquimoderado a ponto de já nem parecer petista, e de Henrique Meirelles, um banqueiro histórico transformado em, bem, digamos, em banqueiro central.
Quando se desenhou no horizonte a vitória de Lula, há uns três meses, pouco mais ou menos, a missão de quem viesse a comandar a economia era a de evitar um desastre, anunciado pelas dificuldades da situação herdada e pela desconfiança dos mercados financeiros.
O desastre, hoje, parece risco menor. Mas é bom deixar claro que apenas evitar o desastre não serve para dar a um governo do PT a cara da mudança pela qual votou a maioria.


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