São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

As presidências da Câmara e Senado

BRASÍLIA - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, fez três declarações de alguma relevância que foram solapadas pela dura realidade política. O petista disse que anunciaria seu ministério em bloco, que não sofreria pressões e que o PMDB só não entraria no governo se não quisesse.
O ministério saiu a conta-gotas. As pressões foram intensas, sobretudo de dentro do próprio PT. O PMDB quis participar do governo, mas Lula não conseguiu acomodar essa sigla na Esplanada.
Esses pequenos obstáculos são uma amostra de como será difícil para Lula, como seria para qualquer um, construir uma maioria sólida dentro do Congresso Nacional.
O primeiro grande teste que a administração petista enfrentará será a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, marcada para o dia 1º de fevereiro. Pela tradição das duas Casas, serão presidentes os representantes dos partidos com a maior bancada -PT na Câmara, PMDB no Senado.
Ocorre que a prudência recomenda evitar previsões definitivas sobre o desfecho dessa disputa. Nos últimos anos, as eleições para presidente da Câmara e do Senado resultaram em grandes problemas para FHC.
Em 2000, ACM e Jader Barbalho tanto se atritaram na eleição pela presidência do Senado que os dois acabaram sem mandato. Ali começou o processo de auto-ejeção do PFL da aliança fernandista. O PSDB acabou com uma coalizão frágil e perdeu o Palácio do Planalto neste ano.
O PT começará a governar o Brasil com uma base formal de apoio muito pequena no Congresso. Terá de negociar muita coisa no varejo. A presidência da Câmara passará a ser cobiçada pelos partidos de grande porte que ficaram de fora do governo.
Lula vai reagir. Não entregará de mão beijada o terceiro cargo da República (o de presidente da Câmara) para a oposição. Mas isso custará caro e certamente deixará feridas expostas durante algum tempo.


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