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CLÓVIS ROSSI
Emoções
DAVOS - A gente vai ficando velho, vai imaginando que nada mais conseguirá nos surpreender, mas, de repente, toma um choque.
O de ontem: uma banqueira cobrando de funcionários do governo
do PT ações imediatas de atenção ao
social, para obter (ou manter) o suporte popular que permita à nova
administração tocar a austeridade e
as reformas ortodoxas que pretende
fazer prioritariamente.
Foi Ana Botín, herdeira da família
dona do Santander, mas hoje presidente do Banesto (Banco Espanhol
de Crédito), em café da manhã com
Henrique Meirelles, presidente do
Banco Central, e Otaviano Canuto,
assessor internacional do Ministério
da Fazenda.
Depois de ouvir que o governo Lula
pretende aumentar mais ainda o superávit fiscal (receitas menos despesas do governo, excluídos os juros) e
fazer as reformas da Previdência e
tributária, a banqueira quis saber o
que seria feito para atender a voz das
urnas, que gritou "mudança" muito
nitidamente.
Não sei qual foi exatamente a resposta de Canuto ou Meirelles, mas o
assessor da Fazenda disse depois que
o programa Fome Zero tem a característica pedida por Ana Botín.
"O espírito do Fome Zero é aliviar
no menor tempo possível o sofrimento dos mais pobres, o que significa
uma resposta ao voto pela mudança", diz Canuto.
Talvez seja de fato assim, talvez seja
inevitável dar preferência, em um fórum como o de Davos, à linguagem
cara aos banqueiros e investidores
externos (e internos).
Mais: a julgar por Canuto, a nova
equipe econômica parece sólida e
bem-intencionada. Mas essa impressão também me foi passada pela jovem equipe que Armínio Fraga reuniu em torno dele, ao assumir o Banco Central.
Não é que tenham fracassado depois, mas em momento algum transmitiram emoção, exatamente a característica que fez Lula ganhar a
eleição.
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