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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Emoções

DAVOS - A gente vai ficando velho, vai imaginando que nada mais conseguirá nos surpreender, mas, de repente, toma um choque.
O de ontem: uma banqueira cobrando de funcionários do governo do PT ações imediatas de atenção ao social, para obter (ou manter) o suporte popular que permita à nova administração tocar a austeridade e as reformas ortodoxas que pretende fazer prioritariamente.
Foi Ana Botín, herdeira da família dona do Santander, mas hoje presidente do Banesto (Banco Espanhol de Crédito), em café da manhã com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, e Otaviano Canuto, assessor internacional do Ministério da Fazenda.
Depois de ouvir que o governo Lula pretende aumentar mais ainda o superávit fiscal (receitas menos despesas do governo, excluídos os juros) e fazer as reformas da Previdência e tributária, a banqueira quis saber o que seria feito para atender a voz das urnas, que gritou "mudança" muito nitidamente.
Não sei qual foi exatamente a resposta de Canuto ou Meirelles, mas o assessor da Fazenda disse depois que o programa Fome Zero tem a característica pedida por Ana Botín.
"O espírito do Fome Zero é aliviar no menor tempo possível o sofrimento dos mais pobres, o que significa uma resposta ao voto pela mudança", diz Canuto.
Talvez seja de fato assim, talvez seja inevitável dar preferência, em um fórum como o de Davos, à linguagem cara aos banqueiros e investidores externos (e internos).
Mais: a julgar por Canuto, a nova equipe econômica parece sólida e bem-intencionada. Mas essa impressão também me foi passada pela jovem equipe que Armínio Fraga reuniu em torno dele, ao assumir o Banco Central.
Não é que tenham fracassado depois, mas em momento algum transmitiram emoção, exatamente a característica que fez Lula ganhar a eleição.


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