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ELIANE CANTANHÊDE
Guerra e paz
BRASÍLIA - Lula joga uma petulante cartada internacional a partir de hoje, em Davos, na Suíça, quando mais uma vez vai tentar se contrapor ao
presidente da maior potência mundial, George W. Bush.
Os EUA, já bem conhecidos e suspeitos no cenário internacional, vão
aparecer como o senhor do universo,
distribuindo chuvas, trovoadas e promessas de bombas no Iraque. Lula, a
maior novidade mundial, vai defender paz, amor e comida para todos.
Depois de forçar uma mesa de negociações para a crise da Venezuela
tendo numa cabeceira os EUA e na
outra o Brasil, Lula vai dar mais um
passo em Davos. O Planalto espera
que seja um grande passo. E a torcida, que não seja um passo maior do
que as pernas.
Sob holofotes gerais, Lula vai criticar igualmente o terrorismo (discurso que agrada aos EUA) e a ameaça
de guerra contra o Iraque (como
Bush está louco para começar).
Mais do que expor a sua própria
imagem, ou mesmo a do Brasil, o sonho de Lula, do seu governo e do seu
partido é inaugurar uma nova fase
nas relações internacionais, capitaneando os interesses dos países pobres e as discussões sobre alternativas
ao neoliberalismo.
Pode-se dizer que elas, as discussões, não estão em Davos, mas em
Porto Alegre, onde ele foi nos últimos
três anos e onde discursou na sexta-feira. Mas não é assim. Como líder
oposicionista, Lula ia ao Fórum Social amplificar a gritaria. Como presidente e aspirante a líder dos países
emergentes, vai ao Fórum Econômico com propósitos mais consistentes.
Trata-se do aprofundamento tanto
de uma política externa bastante ousada como também de uma política
econômica pragmática e atrelada a
um mundo que, queira Lula ou não,
queiramos nós ou não, depende dos
EUA no limite de vida ou morte.
Antes de voar para a Suíça, Lula
prometeu mostrar que "outro mundo
é possível". Só falta convencer o atual
mundo engravatado de Bush e dos
mercados. Parece muita areia para o
caminhãozinho do Brasil, mas não
custa tentar.
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