UOL




São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Guerra e paz

BRASÍLIA - Lula joga uma petulante cartada internacional a partir de hoje, em Davos, na Suíça, quando mais uma vez vai tentar se contrapor ao presidente da maior potência mundial, George W. Bush.
Os EUA, já bem conhecidos e suspeitos no cenário internacional, vão aparecer como o senhor do universo, distribuindo chuvas, trovoadas e promessas de bombas no Iraque. Lula, a maior novidade mundial, vai defender paz, amor e comida para todos.
Depois de forçar uma mesa de negociações para a crise da Venezuela tendo numa cabeceira os EUA e na outra o Brasil, Lula vai dar mais um passo em Davos. O Planalto espera que seja um grande passo. E a torcida, que não seja um passo maior do que as pernas.
Sob holofotes gerais, Lula vai criticar igualmente o terrorismo (discurso que agrada aos EUA) e a ameaça de guerra contra o Iraque (como Bush está louco para começar).
Mais do que expor a sua própria imagem, ou mesmo a do Brasil, o sonho de Lula, do seu governo e do seu partido é inaugurar uma nova fase nas relações internacionais, capitaneando os interesses dos países pobres e as discussões sobre alternativas ao neoliberalismo.
Pode-se dizer que elas, as discussões, não estão em Davos, mas em Porto Alegre, onde ele foi nos últimos três anos e onde discursou na sexta-feira. Mas não é assim. Como líder oposicionista, Lula ia ao Fórum Social amplificar a gritaria. Como presidente e aspirante a líder dos países emergentes, vai ao Fórum Econômico com propósitos mais consistentes.
Trata-se do aprofundamento tanto de uma política externa bastante ousada como também de uma política econômica pragmática e atrelada a um mundo que, queira Lula ou não, queiramos nós ou não, depende dos EUA no limite de vida ou morte.
Antes de voar para a Suíça, Lula prometeu mostrar que "outro mundo é possível". Só falta convencer o atual mundo engravatado de Bush e dos mercados. Parece muita areia para o caminhãozinho do Brasil, mas não custa tentar.


Texto Anterior: Davos - Clóvis Rossi: Emoções
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Prato cheio
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.