São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Abra o olho!

BRASÍLIA - A Igreja Católica não é de brincadeira. Foi importante e corajoso instrumento de resistência à ditadura. E é uma boa formadora de quadros políticos com conhecimento do país e preocupação social.
Mas... está perdendo terreno para as igrejas evangélicas, particularmente para a ainda pouco estudada e criticada Igreja Universal.
Agora, por exemplo, o "must" da eleição presidencial é a aproximação do PT com o PL e de Lula com o deputado liberal Bispo Rodrigues, porta-voz da Universal.
O que pensam disso dom Luciano Mendes de Almeida, dom Aloísio Lorscheider, dom Ivo Lorscheiter e tantos grandes nomes que emprestaram sua voz à resistência contra o regime militar e mantêm uma visão política afiada de país?
O PT e a Igreja Católica são aliados desde sempre, mas a CNBB mantém uma estratégia muito diferente da das demais igrejas. É uma formadora de quadros, não de parlamentares. Atua país afora por meio das Comunidades Eclesiais de Base, do Conselho Indigenista Missionário e dos centros de direitos humanos, que multiplicam idéias, atuam diretamente nas bases, forjam líderes -e só eventualmente eles viram políticos.
Já as evangélicas optaram por um atalho. Seus bispos foram direto aos palanques, às urnas, ao Congresso. A Universal, sozinha, tem uma bancada nada desprezível de 17 deputados federais. Mais, por exemplo, do que todo o PPS (13) e todo o PSB (16).
Enquanto a CNBB produz cartilhas de discussão política, os pastores pulam nos partidos, os partidos pulam no colo dos pastores e Anthony Garotinho (PSB) transforma culto evangélico em palanque. Collor "descobriu" o rádio, e Garotinho, o templo.
As igrejas evangélicas vêm há tempos crescendo em publicidade, divulgação, ambição e poder. Têm rádios, assumem TVs, recolhem milhões em donativos no país inteiro.
Dizem que é para salvar almas e redimir pecadores. Mas nem sempre, nem todas. A Igreja Católica deveria abrir os olhos!


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