São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O real nome da crise

MADRI - Que me perdoem os companheiros que batizaram a crise de "Waldomiro Diniz" ou, mais recentemente, de "José Dirceu".
A crise tem outro nome. Ou, mais exatamente, outro número: os 12% de desemprego que o IBGE encontrou, em fevereiro, nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Subiu, portanto, 0,3 ponto percentual, na comparação com janeiro.
Se se quiser outro número crítico, ei-lo: a renda média do trabalhador brasileiro caiu 5,7% em fevereiro, na comparação com fevereiro de 2003, sempre de acordo com o IBGE. Em relação a janeiro de 2004, a renda subiu microscópico 0,5%.
Que ninguém se iluda: o governo e até José Dirceu teriam passado com certa facilidade pelo escândalo Diniz, não estivesse na praça esse outro e maior escândalo, que é a absoluta incapacidade do governo de dar resposta à anemia econômica e, por extensão, ao desemprego.
Nesse capítulo, não cabe individualizar culpados. Buscar no ministro Antonio Palocci o bode expiatório é fácil. Não que ele não tenha sua parte nesse triste latifúndio, mas "fulanizar" a crítica à política econômica permite evitar atirar sobre o presidente, que é o verdadeiro culpado.
A política econômica só é como é porque Lula aceitou-a sem bufar. Ou porque concorda com ela de coração, o que é improvável, ou porque não conhece outro caminho ou porque tem medo de tomá-lo.
Qualquer que seja a razão, é mais culpado que Palocci.
O ministro José Dirceu vem em seguida, na lista dos culpados pela verdadeira crise. Não me venha, por favor, com o conto de que Dirceu quer outra política econômica, mas agora está fraco e não pode, portanto, batalhar por ela. Se não concordava antes com a política econômica, deveria ter pedido demissão. É a única atitude decente para quem "gerencia" o governo. Ninguém gerencia o que acha errado.
Tudo somado, demitir Dirceu dará certamente um alívio temporário. Mas alívio verdadeiro só virá se a política econômica mudar.


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