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CLÓVIS ROSSI
O real nome da crise
MADRI - Que me perdoem os companheiros que batizaram a crise de
"Waldomiro Diniz" ou, mais recentemente, de "José Dirceu".
A crise tem outro nome. Ou, mais
exatamente, outro número: os 12%
de desemprego que o IBGE encontrou, em fevereiro, nas seis maiores
regiões metropolitanas do país. Subiu, portanto, 0,3 ponto percentual,
na comparação com janeiro.
Se se quiser outro número crítico,
ei-lo: a renda média do trabalhador
brasileiro caiu 5,7% em fevereiro, na
comparação com fevereiro de 2003,
sempre de acordo com o IBGE. Em
relação a janeiro de 2004, a renda subiu microscópico 0,5%.
Que ninguém se iluda: o governo e
até José Dirceu teriam passado com
certa facilidade pelo escândalo Diniz,
não estivesse na praça esse outro e
maior escândalo, que é a absoluta incapacidade do governo de dar resposta à anemia econômica e, por extensão, ao desemprego.
Nesse capítulo, não cabe individualizar culpados. Buscar no ministro
Antonio Palocci o bode expiatório é
fácil. Não que ele não tenha sua parte
nesse triste latifúndio, mas "fulanizar" a crítica à política econômica
permite evitar atirar sobre o presidente, que é o verdadeiro culpado.
A política econômica só é como é
porque Lula aceitou-a sem bufar. Ou
porque concorda com ela de coração,
o que é improvável, ou porque não
conhece outro caminho ou porque
tem medo de tomá-lo.
Qualquer que seja a razão, é mais
culpado que Palocci.
O ministro José Dirceu vem em seguida, na lista dos culpados pela verdadeira crise. Não me venha, por favor, com o conto de que Dirceu quer
outra política econômica, mas agora
está fraco e não pode, portanto, batalhar por ela. Se não concordava antes
com a política econômica, deveria ter
pedido demissão. É a única atitude
decente para quem "gerencia" o governo. Ninguém gerencia o que acha
errado.
Tudo somado, demitir Dirceu dará
certamente um alívio temporário.
Mas alívio verdadeiro só virá se a política econômica mudar.
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