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CLÓVIS ROSSI
Seis chutes, todos errados
SÃO PAULO - Esta Folha publicou quinta-feira uma tabelinha
com as previsões do Fundo Monetário Internacional sobre o desempenho da economia brasileira entre
2003 e 2008. Adivinha quantas vezes o Fundo acertou nesses seis
anos? Adivinhou: zero vez. Zero.
Nenhumazinha.
Há erros pequenos, como o de
2008: o FMI previu crescimento de
4,8% e deu 5,1%. Há erros colossais,
como o de 2003, ano em que o Fundo chutou 2,8% e o crescimento foi
de magérrimo 1,1%, bem menos da
metade, portanto.
Há erros para menos (a previsão
foi inferior ao crescimento efetivamente registrado) e há erros para
mais (o chute era mais otimista que
a realidade se mostrou).
Esse histórico só reforça uma tese em que venho insistindo inutilmente faz tempo: previsões sobre
economia pouco ou nada têm de
ciência. Estão bem mais perto de
chute pura e simplesmente.
Acho até que vale parafrasear
Groucho Marx quando ele diz que
"política é a arte de procurar problemas, encontrá-los, diagnosticá-los equivocadamente e, então, aplicar os remédios errados".
Previsões econômicas também
são um pouco assim.
Vamos então a 2008: o Fundo
mudou, em abril, a previsão sobre o
crescimento do Brasil feita em janeiro. Antes, o Brasil cresceria
1,8%; agora, vai retroceder 1,3%.
Uma mudança de 3,1 pontos percentuais. Em dinheiro, significa
que o Brasil "perdeu", em meros
três meses, algo em torno de R$ 102
bilhões, se seu PIB for mesmo de
US$ 1,5 trilhão e se se usar a cotação do dólar a R$ 2,2.
Dá para acreditar em tamanha
virada? Talvez desse, se tivesse havido um acerto nos anos anteriores,
um só que fosse. Mas, ante o retrospecto, se você fosse gerente de banco, emprestaria dinheiro para o
Fundo? E você, mortal comum, não
acha mais sábio errar por sua própria conta?
crossi@uol.com.br
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