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FERNANDO RODRIGUES
Mundo da lua
BRASÍLIA - É natural e até desejável que um político governista seja em
público mais otimista do que em privado. A função de um administrador
também é a de impedir que o ânimo
do país desça ao rés do chão.
A viagem de Lula à China é um
desses casos. É apresentada como salvação da lavoura. A vida real é diferente. Os efeitos práticos demoram a
aparecer na balança comercial.
A arte de vender otimismo está em
não exagerar na dose. Há risco de
perder o controle. Fica ridículo.
O eleitor desconfia quando as propagandas de Lula-PT martelam que
aumentou o emprego formal no país.
Trata-se de uma estatística malfeita
-como quase todas no Brasil. Baseia-se na boa vontade das empresas
de se reportarem ao governo, mensalmente, dizendo quantos funcionários
mandaram embora e quantos contrataram. Ninguém precisa ser gênio
para adivinhar que esses números
são quase inúteis para demonstrar o
estado do emprego no país.
O otimismo panglossiano petista
também está na nota oficial do partido sobre o salário mínimo, divulgada
anteontem. À guisa de dar argumentos para seus congressistas votarem a
favor dos mixurucos R$ 260, o documento diz o seguinte: "A economia,
neste momento, vem dando sinais
claros e positivos de recuperação de
seu crescimento e de geração de novos empregos". Ontem, a dura realidade: o desemprego nas capitais foi
recorde em abril (13,1%) e a renda do
trabalhador caiu 3,5%.
No Congresso, mais uma dose de
falso otimismo. O coordenador (sic)
político Aldo Rebelo afirma ser possível aprovar um punhado de leis antes
do recesso de julho. A rigor, nada relevante foi votado por deputados e senadores neste ano. Possivelmente,
nada será. Sarney e João Paulo são
um poço até aqui de mágoas.
Talvez já tenha passado da hora de
o governo calibrar as suas previsões.
O tombo, se vier, seria menor. Outra
opção é continuar no mundo da lua.
Deu certo para ganhar a eleição,
quem sabe funcione até 2006.
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