São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Mundo da lua

BRASÍLIA - É natural e até desejável que um político governista seja em público mais otimista do que em privado. A função de um administrador também é a de impedir que o ânimo do país desça ao rés do chão.
A viagem de Lula à China é um desses casos. É apresentada como salvação da lavoura. A vida real é diferente. Os efeitos práticos demoram a aparecer na balança comercial.
A arte de vender otimismo está em não exagerar na dose. Há risco de perder o controle. Fica ridículo.
O eleitor desconfia quando as propagandas de Lula-PT martelam que aumentou o emprego formal no país. Trata-se de uma estatística malfeita -como quase todas no Brasil. Baseia-se na boa vontade das empresas de se reportarem ao governo, mensalmente, dizendo quantos funcionários mandaram embora e quantos contrataram. Ninguém precisa ser gênio para adivinhar que esses números são quase inúteis para demonstrar o estado do emprego no país.
O otimismo panglossiano petista também está na nota oficial do partido sobre o salário mínimo, divulgada anteontem. À guisa de dar argumentos para seus congressistas votarem a favor dos mixurucos R$ 260, o documento diz o seguinte: "A economia, neste momento, vem dando sinais claros e positivos de recuperação de seu crescimento e de geração de novos empregos". Ontem, a dura realidade: o desemprego nas capitais foi recorde em abril (13,1%) e a renda do trabalhador caiu 3,5%.
No Congresso, mais uma dose de falso otimismo. O coordenador (sic) político Aldo Rebelo afirma ser possível aprovar um punhado de leis antes do recesso de julho. A rigor, nada relevante foi votado por deputados e senadores neste ano. Possivelmente, nada será. Sarney e João Paulo são um poço até aqui de mágoas.
Talvez já tenha passado da hora de o governo calibrar as suas previsões. O tombo, se vier, seria menor. Outra opção é continuar no mundo da lua. Deu certo para ganhar a eleição, quem sabe funcione até 2006.


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