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CARLOS HEITOR CONY
Os náufragos do PT
RIO DE JANEIRO - A imagem é calhorda mas apropriada: os radicais
do PT, que estão fazendo marola e
aborrecendo a cúpula partidária, formam a ponta de um perigoso iceberg,
que ameaça a navegação do colosso
lançado ao mar pelas eleições do ano
passado.
Basta andar daqui para ali, visitar
algumas cidades e Estados, e percebe-se o pasmo, misturado já com certa
revolta, dos que acreditavam que haveria alguma coisa de novo sob o sol e
em cima da Terra.
Bem verdade que a exaltação foi
mal informada e bastante exagerada. Caindo na realidade, os petistas
de carteirinha começam a ficar inquietos, e, mais do que eles, os que
não eram do PT, mas torciam pelo
PT, como uma espécie de vingança
contra a política nacional tal como
vem sendo exercida desde a chegada
de Cabral.
Já citei há tempos um filme da dupla o Gordo e Magro em que eles,
após fracassos e embrulhadas, tomam posse de uma ilha deserta. Tudo ali será deles. O Gordo, sempre
mais afoito, bate no próprio peito
com força e declara: "Eu serei o rei!".
Com a cara desconsolada de sempre,
o Magro pergunta o que ele será. O
Gordo espeta o fura-bolos no peito do
Magro e diz: "Você será o povo!".
Não sei por que acho que a atual situação dentro do PT é parecida com
essa cena, sendo o Gordo o grupo que
está no poder e o Magro as bases, a
famosa militância sem a qual o PT
não seria o que é.
Leonel Brizola disse certa vez que
Lula era um sapo barbudo. Barbudo
o presidente continua, mas deixou de
ser sapo há muito tempo e, se não
chegou ainda a príncipe, a culpa não
é dele. Outro dia, um amigo confessou que temia o que Lula faria com o
Brasil. Alguém retrucou: ele temia o
que o Brasil podia fazer com Lula.
Não há nenhuma ameaça à estabilidade do presidente e da Constituição. Mas há náufragos demais boiando em torno do colosso.
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