São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA FEDERAL

A segurança pública ganha proeminência no debate eleitoral. Se o desemprego ainda é o principal problema do país, de acordo com as pesquisas, a violência sempre surge como a segunda preocupação. O Datafolha inquiriu o eleitorado sobre a relação entre voto e combate à violência. Os resultados retratam que o público tem uma percepção bastante arguta do problema.
Pode haver certo estranhamento com a importância atribuída ao presidente da República no combate à violência. Para 41% dos entrevistados, o chefe do Executivo federal deveria ser o principal responsável pela segurança. De fevereiro para cá, esse número, que era de 32%, cresceu consideravelmente. Ora, a Constituição atribui o maior peso no combate à criminalidade e dá maior poder de polícia aos Estados, e não à União.
É preciso ponderar os resultados da pesquisa para notar que esse é um falso paradoxo. Em primeiro lugar, o público confere grau não-desprezível de importância (31%) ao governador do Estado no tema segurança. Em segundo lugar, é provável que a preponderância da disputa presidencial no noticiário tenha agido como um "inflator" no peso atribuído ao presidente: em fevereiro, o público conferia praticamente a mesma importância ao governador e ao presidente.
Mas o que torna mais coerentes os resultados verificados na sondagem é a resposta majoritária sobre qual a melhor forma de enfrentar a violência. Para 58%, é preciso combater o desemprego e melhorar a educação, tarefas em que o peso das políticas federais é relativamente maior.
Candidatos que vêm pregando endurecimento de penas e da ação policial deveriam estar atentos a esses resultados. A população associa o desemprego -e, numa generalização possível, o "Estado de mal-estar social"- à violência. Vinte anos de estagnação da renda e de descaso com políticas de urbanização podem ter tirado o sossego das pessoas, mas não anularam a consciência sobre a principal causa de suas mazelas.


Texto Anterior: Editoriais: O DOSSIÊ DE BLAIR
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Lula, FHC e a transição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.