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VIOLÊNCIA FEDERAL
A segurança pública ganha
proeminência no debate eleitoral. Se o desemprego ainda é o principal problema do país, de acordo
com as pesquisas, a violência sempre
surge como a segunda preocupação.
O Datafolha inquiriu o eleitorado sobre a relação entre voto e combate à
violência. Os resultados retratam que
o público tem uma percepção bastante arguta do problema.
Pode haver certo estranhamento
com a importância atribuída ao presidente da República no combate à
violência. Para 41% dos entrevistados, o chefe do Executivo federal deveria ser o principal responsável pela
segurança. De fevereiro para cá, esse
número, que era de 32%, cresceu
consideravelmente. Ora, a Constituição atribui o maior peso no combate
à criminalidade e dá maior poder de
polícia aos Estados, e não à União.
É preciso ponderar os resultados
da pesquisa para notar que esse é um
falso paradoxo. Em primeiro lugar, o
público confere grau não-desprezível de importância (31%) ao governador do Estado no tema segurança.
Em segundo lugar, é provável que a
preponderância da disputa presidencial no noticiário tenha agido como
um "inflator" no peso atribuído ao
presidente: em fevereiro, o público
conferia praticamente a mesma importância ao governador e ao presidente.
Mas o que torna mais coerentes os
resultados verificados na sondagem
é a resposta majoritária sobre qual a
melhor forma de enfrentar a violência. Para 58%, é preciso combater o
desemprego e melhorar a educação,
tarefas em que o peso das políticas
federais é relativamente maior.
Candidatos que vêm pregando endurecimento de penas e da ação policial deveriam estar atentos a esses resultados. A população associa o desemprego -e, numa generalização
possível, o "Estado de mal-estar social"- à violência. Vinte anos de estagnação da renda e de descaso com
políticas de urbanização podem ter
tirado o sossego das pessoas, mas
não anularam a consciência sobre a
principal causa de suas mazelas.
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