São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Lula, FHC e a transição

SÃO PAULO - Adivinhe em quem o PT mais confia para que a transição para um eventual governo Lula seja a mais tranquila possível (ou a menos desordenada possível)?
Sim, é nele, em Fernando Henrique Cardoso, que foi, talvez, a principal besta-fera do PT durante a maior parte do mandato.
No encontro que teve com Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, FHC prometeu que, depois da eleição, nada fará sem antes consultar Lula -se este tiver sido o vencedor, é óbvio. É razoável e lógico imaginar que José Serra receberá idêntico tratamento, mesmo que não lhe tenha sido prometido.
O PT imagina que, se FHC não consegue tranquilizar os mercados internos, como se está vendo agora, pelo menos poderá usar o seu prestígio externo para assegurar que Lula não é o bicho-papão.
Não se trata, é bom deixar claro, de devaneios. Os telefonemas entre FHC e José Dirceu, presidente nacional e principal operador político do PT, são mais frequentes (e mais cordiais) do que sabemos os jornalistas.
Não é de graça, portanto, que Lula elogia com certa regularidade o presidente da República -tanto em público como em conversas reservadas.
Por que FHC se disporia a dar uma mão ao partido que mais críticas lhe fez e ainda lhe faz e ao candidato que enfrentou (e derrotou duas vezes) em eleições que não foram exatamente jogos amistosos?
Aí, cada um pode escolher a sua resposta. Haverá os crédulos, que dirão que um homem público, como FHC, não há de querer que o país vá à breca mesmo que seja nas mãos de quem se opôs o tempo todo a seus projetos políticos.
Os mais céticos dirão que o presidente teme que um fracasso do sucessor, logo no início do mandato, respingará gravemente nele próprio, manchando uma biografia que, se já está ameaçada pela gravidade da crise econômico-financeira, ainda pode ser salva, mormente se o sucessor cooperar para tanto.


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