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VINICIUS TORRES FREIRE
Urubus políticos e partidos
SÃO PAULO - O PMDB e debates sobre reforma política são sinais típicos
de que um governo definha. Quando
a gente vê muito urubu, sabe que tem
bicho morto ou lixão por perto.
O PMDB e os debates sobre reforma
política se alimentam dos restos da
ilusão de um governo, partido ou plano redentor e da crise subseqüente ao
fiasco. O governo torna-se minoritário, há inflação ou desordem no mercado político? O PMDB infla e oferece
préstimos, como agora.
Politólogos, politiquentos e demagogos em geral passam a discutir "reforma política". Querem partidos fortes e facilidade de formação de maiorias no Congresso. "Sem partidos fortes, não há democracia", diz o clichê.
Isto é, partidos disciplinados e que
agreguem idéias e interesses sociais
precisos. Trata-se de mais uma ilusão, mais uma macaquice política e
teórica, como se o desenvolvimento
de países centrais, ricos, pudesse se repetir sem mais por aqui.
Os partidos brasileiros até dispõem
de anzóis sociais -âncoras seria demais. O PSDB é o partido "moderno":
do grande empresário, tecnocrata e
executivo, da classe média, da paulistocracia. O PT é ou era sua contraparte sindical. O PFL é a sublegenda
atrasada dos tucanos, da oligarquia
nordestina e de seus servos. Mas o
partido maior mesmo é o Partido da
Massa Disforme Brasileira, ou sua
versão formal, o PMDB.
O PMDB é o MDB peneirado de tucanos e petistas, o restante de vários
governos desastrosos eleitos no estelionato eleitoral de 1986. É a sublegenda do partido conservador de
qualquer cidade, de muita elite municipal, da oposição conservadora ao
representante local da ditadura e
seus subseqüentes rearranjos .
O núcleo idológico-social de PSDB,
PT e PFL é pequeno. Inflam ou desinflam de acordo com a oportunidade
de poder que oferecem. Quem não se
adapta fica no PMDB e nos satélites
do mercado de varejo político.
Os partidos são regionais, caciquistas e clientes do Estado. Uma reforma
"disciplinadora" tende a reforçar o
caciquismo. Se o sistema partidário é
uma geléia, a causa não é formal, legal. Entre outros tantos motivos, o
sistema não tem espinha por faltar
um partido popular de verdade.
@ - vinit@uol.com.br
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