São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Articulação de risco

BRASÍLIA - A que ponto chegou o esfarelamento político do governo. Só uma improvável vitória de Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara dará um certo conforto para Lula e sua administração.
Aldo Rebelo pertence a uma bancada de nove deputados. Até outro dia, o PC do B defendia o regime político da Albânia. O candidato chapa-branca ficou famoso pelo seu projeto de lei (por sorte nunca aprovado) propondo banir as palavras estrangeiras no Brasil.
Quando foi ministro de Lula para tentar coordenar a área política, Aldo Rebelo colecionou derrotas. A maior delas foi a eleição de Severino Cavalcanti, em fevereiro.
É inútil o Planalto negar ter interferido no processo que elegeu Severino. Seria uma tolice. Agora, é verdade, vigora uma total sem-cerimônia. Lula ordenou pessoalmente aos três ministros do PMDB que cabalassem votos a favor de Aldo Rebelo.
De quebra, o Planalto soltou R$ 500 milhões do Orçamento para mais uma farra fisiológica. É irônico que esses R$ 500 milhões sejam liberados justamente por Paulo Bernardo, o deputado que no passado se especializava em passar notas para os jornais criticando as lambanças tucanas. Agora, no poder, faz igual.
Com todo esse esforço, se Aldo Rebelo contrariar as regras da física e acabar decolando, o ganho de Lula será apenas razoável. Já se a derrota vier, a proporção do estrago causará um aprofundamento da crise.
Mas é positivo que desta vez Lula tenha entrado de peito aberto na operação -com o apoio de uma turma conhecida. Foi aconselhado por Renan Calheiros (ex-comunista, ex-Collor, ex-Itamar, ex-FHC e agora pró-PT) e por Sarney (ex-tudo). No Planalto, o alquimista maior é Jaques Wagner, notório pela excepcional (sic) capacidade de trabalho.
Com uma articulação dessas, só rezando. Como o candidato é comunista, talvez nem apelando aos céus.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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