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FERNANDO RODRIGUES
Articulação de risco
BRASÍLIA - A que ponto chegou o esfarelamento político do governo. Só
uma improvável vitória de Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência
da Câmara dará um certo conforto
para Lula e sua administração.
Aldo Rebelo pertence a uma bancada de nove deputados. Até outro dia,
o PC do B defendia o regime político
da Albânia. O candidato chapa-branca ficou famoso pelo seu projeto
de lei (por sorte nunca aprovado)
propondo banir as palavras estrangeiras no Brasil.
Quando foi ministro de Lula para
tentar coordenar a área política, Aldo Rebelo colecionou derrotas. A
maior delas foi a eleição de Severino
Cavalcanti, em fevereiro.
É inútil o Planalto negar ter interferido no processo que elegeu Severino.
Seria uma tolice. Agora, é verdade,
vigora uma total sem-cerimônia. Lula ordenou pessoalmente aos três ministros do PMDB que cabalassem votos a favor de Aldo Rebelo.
De quebra, o Planalto soltou R$ 500
milhões do Orçamento para mais
uma farra fisiológica. É irônico que
esses R$ 500 milhões sejam liberados
justamente por Paulo Bernardo, o
deputado que no passado se especializava em passar notas para os jornais criticando as lambanças tucanas. Agora, no poder, faz igual.
Com todo esse esforço, se Aldo Rebelo contrariar as regras da física e
acabar decolando, o ganho de Lula
será apenas razoável. Já se a derrota
vier, a proporção do estrago causará
um aprofundamento da crise.
Mas é positivo que desta vez Lula
tenha entrado de peito aberto na
operação -com o apoio de uma turma conhecida. Foi aconselhado por
Renan Calheiros (ex-comunista, ex-Collor, ex-Itamar, ex-FHC e agora
pró-PT) e por Sarney (ex-tudo). No
Planalto, o alquimista maior é Jaques Wagner, notório pela excepcional (sic) capacidade de trabalho.
Com uma articulação dessas, só rezando. Como o candidato é comunista, talvez nem apelando aos céus.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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