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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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UTOPIA E REALIDADE

O filósofo José Arthur Giannotti diagnosticou a existência de um "domínio simbólico nacional" do PT ao mesmo tempo em que constatou um déficit de "utopia" na oposição representada pelo PSDB. As declarações do ilustre professor foram proferidas em debate sobre democratização e reforma do Estado promovido pelo Instituto Sérgio Motta. Giannotti considerou o governo Fernando Henrique Cardoso "economicista" e avaliou que o PSDB fracassa ao tentar se contrapor ao petismo no "campo imaginário" -ou seja, na conquista das fantasias e esperanças da população.
A análise é pertinente. Não obstante, é preciso lembrar que a era tucana foi inaugurada com fumaças utópicas: este seria um país mais justo, com economia estável e aberta, no qual passaríamos a viver cada vez mais como se fôssemos parte do Primeiro Mundo. Com esse sonho, ancorado em parte num bom plano de estabilização, mas também em grave ilusão monetária, o PSDB contou com vasto apoio da sociedade.
Mesmo no pleito de 1998, quando a utopia do real já estava fadada a se tornar uma realidade nada utópica, evidenciando-se a exposição da economia a crises externas e a inconsistência cambial, o PSDB soube se contrapor ao PT no plano simbólico, fomentando os temores em relação a um governo populista, irresponsável e despreparado para a realidade.
Se é verdade que não havia horizonte utópico tucano na eleição presidencial passada, é também fato que a grande lacuna foi a ausência de resultados naquilo que o PT tomou como principal bandeira: crescimento, emprego, redução da miséria.
Note-se que o petismo sofreu três derrotas em eleições presidenciais. Se na última conseguiu impor seu "domínio simbólico", o fez possivelmente menos a partir de mobilizações utópicas e mais com uma mescla de sentimentalismo e renovado senso de realidade que prosperou sobre os escombros do fiasco econômico do último mandato tucano.


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