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UTOPIA E REALIDADE
O filósofo José Arthur Giannotti diagnosticou a existência
de um "domínio simbólico nacional" do PT ao mesmo tempo em que
constatou um déficit de "utopia" na
oposição representada pelo PSDB.
As declarações do ilustre professor
foram proferidas em debate sobre
democratização e reforma do Estado
promovido pelo Instituto Sérgio
Motta. Giannotti considerou o governo Fernando Henrique Cardoso
"economicista" e avaliou que o PSDB
fracassa ao tentar se contrapor ao petismo no "campo imaginário" -ou
seja, na conquista das fantasias e esperanças da população.
A análise é pertinente. Não obstante, é preciso lembrar que a era tucana
foi inaugurada com fumaças utópicas: este seria um país mais justo,
com economia estável e aberta, no
qual passaríamos a viver cada vez
mais como se fôssemos parte do Primeiro Mundo. Com esse sonho, ancorado em parte num bom plano de
estabilização, mas também em grave
ilusão monetária, o PSDB contou
com vasto apoio da sociedade.
Mesmo no pleito de 1998, quando a
utopia do real já estava fadada a se
tornar uma realidade nada utópica,
evidenciando-se a exposição da economia a crises externas e a inconsistência cambial, o PSDB soube se
contrapor ao PT no plano simbólico,
fomentando os temores em relação a
um governo populista, irresponsável
e despreparado para a realidade.
Se é verdade que não havia horizonte utópico tucano na eleição presidencial passada, é também fato
que a grande lacuna foi a ausência de
resultados naquilo que o PT tomou
como principal bandeira: crescimento, emprego, redução da miséria.
Note-se que o petismo sofreu três
derrotas em eleições presidenciais.
Se na última conseguiu impor seu
"domínio simbólico", o fez possivelmente menos a partir de mobilizações utópicas e mais com uma mescla de sentimentalismo e renovado
senso de realidade que prosperou sobre os escombros do fiasco econômico do último mandato tucano.
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