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RESTRIÇÃO NO IRAQUE
O fechamento dos escritórios da TV Al Arabiya em Bagdá marca um ponto de inflexão na
política norte-americana para o Iraque. Embora o veto às atividades da
rede tenha sido determinado pelo
Conselho de Governo Iraquiano, este órgão é pouco mais do que os interesses da Casa Branca expressos em
idioma árabe. Mais do que isso, a
medida, que inegavelmente contraria o princípio da liberdade de imprensa, foi rapidamente defendida
por Richard Boucher, porta-voz do
Departamento de Estado.
Dadas as atuais circunstâncias no
Iraque, que é palco de uma campanha de guerrilha, não teria sido difícil
decretar uma espécie de estado de
emergência que estabelecesse restrições ao trabalho da imprensa. Várias
constituições democráticas prevêem
medidas dessa natureza para momentos de exceção. Os EUA, contudo, haviam optado por não fazê-lo.
Tinham, é claro, razões para tanto.
Os ideólogos da invasão ao Iraque
em Washington apostavam que a
criação de uma genuína democracia
no país teria efeitos positivos sobre
toda a região. Como a liberdade de
imprensa é um dos pilares da democracia, não parecia um bom caminho iniciar a administração norte-americana impondo limitações ao
trabalho da imprensa, em especial ao
de jornalistas árabes, como os das redes Al Arabiya e Al Jazira.
A pergunta que fica é se a mudança
de abordagem no meio do caminho
não significa mais um golpe contra
as aspirações norte-americanas. A irregularidade atribuída à Al Arabiya
-transmitir um suposto discurso de
Saddam Hussein- é, em termos jornalísticos, totalmente defensável.
Boa parte dos jornais do mundo
trouxe, no dia seguinte, a notícia de
que o ex-ditador iraquiano teria se
manifestado por meio de uma fita.
É cedo para afirmar se as restrições
à imprensa no Iraque vão perdurar
ou logo serão revertidas. Seja como
for, esse está longe de ser o maior
embaraço em que os EUA se meteram ao invadir o país.
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