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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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RESTRIÇÃO NO IRAQUE

O fechamento dos escritórios da TV Al Arabiya em Bagdá marca um ponto de inflexão na política norte-americana para o Iraque. Embora o veto às atividades da rede tenha sido determinado pelo Conselho de Governo Iraquiano, este órgão é pouco mais do que os interesses da Casa Branca expressos em idioma árabe. Mais do que isso, a medida, que inegavelmente contraria o princípio da liberdade de imprensa, foi rapidamente defendida por Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado.
Dadas as atuais circunstâncias no Iraque, que é palco de uma campanha de guerrilha, não teria sido difícil decretar uma espécie de estado de emergência que estabelecesse restrições ao trabalho da imprensa. Várias constituições democráticas prevêem medidas dessa natureza para momentos de exceção. Os EUA, contudo, haviam optado por não fazê-lo. Tinham, é claro, razões para tanto.
Os ideólogos da invasão ao Iraque em Washington apostavam que a criação de uma genuína democracia no país teria efeitos positivos sobre toda a região. Como a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia, não parecia um bom caminho iniciar a administração norte-americana impondo limitações ao trabalho da imprensa, em especial ao de jornalistas árabes, como os das redes Al Arabiya e Al Jazira.
A pergunta que fica é se a mudança de abordagem no meio do caminho não significa mais um golpe contra as aspirações norte-americanas. A irregularidade atribuída à Al Arabiya -transmitir um suposto discurso de Saddam Hussein- é, em termos jornalísticos, totalmente defensável. Boa parte dos jornais do mundo trouxe, no dia seguinte, a notícia de que o ex-ditador iraquiano teria se manifestado por meio de uma fita.
É cedo para afirmar se as restrições à imprensa no Iraque vão perdurar ou logo serão revertidas. Seja como for, esse está longe de ser o maior embaraço em que os EUA se meteram ao invadir o país.


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