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RUY CASTRO
Laranja bichada
RIO DE JANEIRO - Numa cena
de filme dos Irmãos Marx, Groucho
pede ao garçom uma laranjada. O
garçom diz que não tem. Groucho
pergunta se têm pato com laranja.
O garçom responde que sim. Groucho fulmina: "Então esprema o pato
e me traga a laranjada".
Se os Irmãos Marx fossem brasileiros, bastaria a Groucho, à falta de
um pato, mandar espremer o PT.
Haveria laranjada em quantidade
para inundar a cena, já que, pelo noticiário, o laranjal petista é a perder
de vista. Infelizmente, não se refere
à fruta, mas à fraude -ao uso de intermediários para a aplicação de dinheiro ilícito em transações financeiras e comerciais.
Volta e meia, o partido é acusado
de receber dinheiro de quem não
deve por intermédio de quem não
tem. Esse último seria o laranja,
conceito surgido há pouco em lugar
do testa-de-ferro, mas já tão dicionarizado (consta do Aurélio e do
Houaiss) que passou a dispensar as
aspas. Donde, agora, a fruta e a fraude têm peso igual nas manchetes, o
que exige algum esforço intelectual
para se saber de qual se trata.
Outro dia mesmo, ao ler na Folha, num alto de página, "PF investigará doação de laranjas ao PT",
pensei logo em algo suspeito num
carregamento da fruta que alguém
teria despejado de graça na despensa do partido no ABC. A confusão
aumentou quando li que o objeto da
desconfiança eram duas pequenas
empresas da Bahia, Estado tradicionalmente associado às laranjas.
E só então, avançando na leitura,
descobri que a investigação se referia a um dinheiro que teria sido
doado pelas tais empresas -as ditas
laranjas- ao PT, em troca de uma
medida favorecendo uma empresa
muito maior.
Antigamente, quando alguém estava na pindaíba, dizia-se que estava passando "a pão e laranja". Hoje
ficou quase ofensivo dizer isso -pela laranja.
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