São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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RUY CASTRO

Laranja bichada

RIO DE JANEIRO - Numa cena de filme dos Irmãos Marx, Groucho pede ao garçom uma laranjada. O garçom diz que não tem. Groucho pergunta se têm pato com laranja. O garçom responde que sim. Groucho fulmina: "Então esprema o pato e me traga a laranjada".
Se os Irmãos Marx fossem brasileiros, bastaria a Groucho, à falta de um pato, mandar espremer o PT. Haveria laranjada em quantidade para inundar a cena, já que, pelo noticiário, o laranjal petista é a perder de vista. Infelizmente, não se refere à fruta, mas à fraude -ao uso de intermediários para a aplicação de dinheiro ilícito em transações financeiras e comerciais.
Volta e meia, o partido é acusado de receber dinheiro de quem não deve por intermédio de quem não tem. Esse último seria o laranja, conceito surgido há pouco em lugar do testa-de-ferro, mas já tão dicionarizado (consta do Aurélio e do Houaiss) que passou a dispensar as aspas. Donde, agora, a fruta e a fraude têm peso igual nas manchetes, o que exige algum esforço intelectual para se saber de qual se trata.
Outro dia mesmo, ao ler na Folha, num alto de página, "PF investigará doação de laranjas ao PT", pensei logo em algo suspeito num carregamento da fruta que alguém teria despejado de graça na despensa do partido no ABC. A confusão aumentou quando li que o objeto da desconfiança eram duas pequenas empresas da Bahia, Estado tradicionalmente associado às laranjas. E só então, avançando na leitura, descobri que a investigação se referia a um dinheiro que teria sido doado pelas tais empresas -as ditas laranjas- ao PT, em troca de uma medida favorecendo uma empresa muito maior.
Antigamente, quando alguém estava na pindaíba, dizia-se que estava passando "a pão e laranja". Hoje ficou quase ofensivo dizer isso -pela laranja.

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