São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Sobre desagravos

MADRI - Depois da catarata de bobagens que saiu do governo, do PT ou de ambos a propósito do caso Waldomiro Diniz, parece que finalmente alguém no Palácio do Planalto teve bom senso suficiente para mandar cancelar a estultice que seria o ato de desagravo a José Dirceu.
Desagravo a troco de quê? Dirceu só enfrenta uma acusação, que é, por sinal, absolutamente irrefutável: nomeou um trambiqueiro para um posto importante no governo. Falta grave. Vai "sofrer" uma homenagem por ter praticado falta grave? Ridículo, para dizer o menos.
Dirceu é honesto, como fazem questão de trombetear seus amigos? E daí? Honestidade é uma obrigação básica, preliminar e essencial em qualquer cidadão -e mais ainda em homens públicos. Transformá-la em virtude, ainda por cima suficiente para convocar amigos e correligionários para um desagravo, é inverter valores, o que já não surpreende no "new PT".
Já intelectuais e artistas preparam, pelo relato da Folha, um manifesto também de desagravo, mas que parece estar atrasado mais de 30 anos. Pelas declarações que este jornal publicou ontem, trata-se mais de resgatar o jovem estudante revolucionário José Dirceu, o do conflito Mackenzie x Faculdade de Filosofia, na rua Maria Antônia, centro de São Paulo.
Seria justo se houvesse pelo menos um indício de que o jovem revolucionário de 1968 preservou algo da antiga chama. O que se vê no José Dirceu de hoje, ao contrário, é um "apparatchik" típico, braço direito de um governo que não tem braço esquerdo e de revolucionário não tem nada. A não ser, é claro, que haja descarados capazes de dizer que a reforma da Previdência é uma revolução.
Desagravo deveria merecer o 1,868 milhão de desempregados na região metropolitana de São Paulo, recorde na história das estatísticas para um mês de janeiro, 13 meses depois da posse de um governo que falava na necessidade de criar 10 milhões de empregos.


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