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ELIANE CANTANHÊDE
Se colar, colou
CARACAS - As embaixadas estrangeiras, inclusive, ou principalmente,
a do Brasil, estão sob fogo cruzado
aqui na Venezuela. A imensa, mas
difusa, oposição passou ontem por
uma a uma distribuindo documentos
contra o presidente Hugo Chávez. A
igualmente imensa, mas nada arrumadinha, turma do Chávez promete
fazer o mesmo percurso para defendê-lo.
No centro de tudo, a decisão do
CNE (Conselho Nacional Eleitoral)
de mandar checar mais de um milhão de assinaturas do abaixo-assinado que pede um "referendo revogatório" para apear Chávez do poder
antes do tempo. A oposição diz que as
assinaturas estão perfeitas e que o governo manipula o CNE. A situação
acusa a oposição de ter apresentado
dezenas de planilhas com letras
iguais e de ter coagido os signatários.
A União Européia manifestou-se
contra a decisão do CNE e, portanto,
a favor da oposição e da realização
do referendo. Os EUA -adivinhe!-
declararam que a vontade da maioria não pode ser atropelada por "detalhes técnicos". Leia-se: referendo já!
Com esse isolamento de Chávez, a
pergunta que não quer calar é: por
que raios Lula se mete na Venezuela
logo agora? Não dá para ser pró-Chávez nem anti-Chávez, e ninguém
agüenta mais a lengalenga de que o
Brasil quer "uma saída constitucional, pacífica, democrática e eleitoral"
-que é o que Lula, por falta de opção, deve repetir hoje no encontro
com Chávez e o argentino Kirchner.
A verdade é que o projeto original
de Chávez tinha tudo a ver, mas ele
botou tudo a perder com sua cruzada
anti-EUA e antineoliberalismo, rompendo com igreja, universidades, empresas, mídia e classe média em geral.
Sobrou pouco do projeto, e Chávez
está cada vez mais como Fidel: ilhado
e levando a coisa no gogó.
Os países estão se descolando desse
Titanic. Até mesmo a Argentina de
Kirchner, que rechaça o tal eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires contra
os EUA ou o que quer que seja. Só falta o Brasil.
Lula decidiu antecipar a volta a
Brasília para hoje, talvez por perceber que, se colar, colou. Depois, fica
tarde demais para descolar.
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