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MARCELO BERABA
Jeitinhos e jeitinhos
RIO DE JANEIRO - O dicionário do Aurélio não registra. No "Houaiss",
tem o sentido de habilidade, de esperteza, de astúcia para conseguir algo
difícil para a maioria. É o jeitinho
brasileiro, bastante enraizado nos
nossos costumes e que, volta e meia, é
enaltecido ou lamentado, conforme
as circunstâncias, por algum estrangeiro familiarizado com o país.
Ao comentar, anteontem, a crise do
governo Lula, atingido por uma denúncia de corrupção e marcado por
frustrações sociais, o cardeal dom Geraldo Majella, presidente da CNBB,
comparou o país, mais uma vez, a
uma panela de pressão a ponto de explodir.
E por que ainda não explodiu?
Dom Geraldo tem uma explicação:
"Aqui tem o jeitinho brasileiro, se
quer resolver tudo no jeitinho e nem
sempre só com o jeitinho resolve". Ele
acha que se fosse em outro país já tinha havido uma revolta popular.
"Veja o caso da Argentina, onde o
povo foi às ruas e exigiu mudanças
radicais", exemplificou. Ele quis dizer
que, se o governo Lula não se tocar e
não tomar medidas concretas e urgentes, não tem jeitinho que dê jeito.
A revista "Insight Inteligência" do
último trimestre de 2003 publicou
uma pesquisa nacional, dirigida pelo
cientista político Alberto Almeida,
que mostra que para os brasileiros é
muito tênue a distinção entre dar um
jeitinho e praticar um ato de corrupção.
Um exemplo: apenas 44% dos entrevistados consideraram que é corrupção um funcionário público receber um presente de Natal de uma empresa que ele ajudou a ganhar um
contrato do governo. A maioria considerou o ato apenas um favor recebido (30%) ou um jeitinho (27%).
A propósito, Waldomiro Diniz, então presidente da Loterj, foi flagrado
quando dava um jeitinho de ajudar o
empresário lotérico Carlinhos Cachoeira a ganhar um contrato do governo do Rio. Não era Natal, mas pediu um presente: 1%.
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