UOL




São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O CAMINHO ARGENTINO

Não há solução rápida nem fácil para a Argentina. O discurso de posse do presidente Néstor Kirchner evidenciou a consciência de que o caminho para uma trajetória de "normalidade" não será fruto de propostas mágicas, mas de um trabalho árduo e consistente de reconstrução da credibilidade das instituições políticas e econômicas.
O "ajuste" selvagem sofrido pela economia argentina, com a quebra de um modelo irresponsável e ilusório, jogou o país na mais grave crise de sua história. O brutal recuo da produção, o inédito empobrecimento da população, a desmoralização da política, a descrença generalizada da sociedade em relação a suas elites dirigentes e as pressões para o pagamento dos compromissos internacionais delineiam um quadro de dificuldades que não estimula maior otimismo no curto prazo.
Observada a situação com o devido realismo, porém, é certo que a Argentina avança -e os sinais são de que o faz na direção correta. A exemplo de seu antecessor, mas com renovada legitimidade, Kirchner dispõe-se a implementar as políticas que poderão recolocar a economia numa rota sustentável. Promete investir no saneamento fiscal do setor público, manter a flutuação da moeda e buscar a formação de superávits comerciais. Trabalhará para o fortalecimento do Mercosul e para a normalização das relações com o mercado internacional, embora não o pretenda fazê-lo incondicionalmente, ou seja, à custa de gerar mais restrições à sociedade.
A receita é semelhante à adotada no Brasil, cujas dificuldades são conhecidas. Se não parece haver no horizonte alternativas melhores, deve-se reconhecer que os resultados de tal política podem tardar a se traduzir em melhorias palpáveis para a população. O desafio, portanto, será conquistar o apoio dos argentinos para conduzir um projeto de prazo mais longo, reerguendo, em meio a complicações, as pontes institucionais que a crise recente solapou.


Texto Anterior: Editoriais: O BC SE MEXE
Próximo Texto: Editoriais: O MAPA DA PAZ

Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.