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O CAMINHO ARGENTINO
Não há solução rápida nem fácil para a Argentina. O discurso de posse do presidente Néstor
Kirchner evidenciou a consciência de
que o caminho para uma trajetória
de "normalidade" não será fruto de
propostas mágicas, mas de um trabalho árduo e consistente de reconstrução da credibilidade das instituições políticas e econômicas.
O "ajuste" selvagem sofrido pela
economia argentina, com a quebra
de um modelo irresponsável e ilusório, jogou o país na mais grave crise
de sua história. O brutal recuo da
produção, o inédito empobrecimento da população, a desmoralização
da política, a descrença generalizada
da sociedade em relação a suas elites
dirigentes e as pressões para o pagamento dos compromissos internacionais delineiam um quadro de dificuldades que não estimula maior otimismo no curto prazo.
Observada a situação com o devido
realismo, porém, é certo que a Argentina avança -e os sinais são de
que o faz na direção correta. A exemplo de seu antecessor, mas com renovada legitimidade, Kirchner dispõe-se a implementar as políticas
que poderão recolocar a economia
numa rota sustentável. Promete investir no saneamento fiscal do setor
público, manter a flutuação da moeda e buscar a formação de superávits
comerciais. Trabalhará para o fortalecimento do Mercosul e para a normalização das relações com o mercado internacional, embora não o pretenda fazê-lo incondicionalmente,
ou seja, à custa de gerar mais restrições à sociedade.
A receita é semelhante à adotada no
Brasil, cujas dificuldades são conhecidas. Se não parece haver no horizonte alternativas melhores, deve-se
reconhecer que os resultados de tal
política podem tardar a se traduzir
em melhorias palpáveis para a população. O desafio, portanto, será conquistar o apoio dos argentinos para
conduzir um projeto de prazo mais
longo, reerguendo, em meio a complicações, as pontes institucionais
que a crise recente solapou.
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