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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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VALDO CRUZ

Palavras, palavras...

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou jogando a culpa pelos juros altos nas costas do governo Fernando Henrique Cardoso. Os juros da nova economia, prometeu o petista, ainda estão por vir.
Tudo bem que seu antecessor tenha realmente parte da responsabilidade pelo que aí está. Afinal, Lula está completando apenas seu quinto mês como mandatário do país.
Mas esse discurso de ficar se eximindo de tudo o que acontece à sua volta começa a cansar. Dizer que juros altos, crise no campo, falta de regras são heranças de FHC não resolve em nada a triste situação do país.
Pode até funcionar para evitar queda de popularidade. Mas não faz a economia crescer, não reduz o conflito no campo nem dá segurança ao empresário, nacional ou estrangeiro, que deseja investir no país.
No caso dos juros altos, o discurso da "herança maldita" pelo menos é uma reação às críticas ao rumo adotado. Bem ou mal, uma política econômica está sendo aplicada.
Por sinal, melhor defesa do que Lula fez o ministro Antonio Palocci. Usou seus conhecimentos médicos para defender sua política econômica, alegando que não dá para interromper o tratamento ao menor sinal de melhora do paciente.
O risco é exagerar na dosagem da medicação. Um país doente pode não suportar o tratamento caso nada seja feito para aumentar a resistência do organismo. Aí, muito tem sido prometido, mas pouco saiu do papel.
Pior ainda é quando o governo petista diz que a crise no campo tem origem na política agrária de FHC, mas se mostra paralisado no setor. Enquanto isso, recrudesce o clima de tensão na área rural.
Ou quando ataca as regras deixadas por FHC nos setores de telecomunicações e energia, diz que vai mudar tudo, mas não procura aplicar rapidamente a sua política. Resultado: o investimento externo despencou. Ninguém investe num país sem saber como seu capital será tratado.
Em outras palavras, o discurso pode ser bom, mas não enche barriga.


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