|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VALDO CRUZ
Palavras, palavras...
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou jogando a culpa
pelos juros altos nas costas do governo Fernando Henrique Cardoso. Os
juros da nova economia, prometeu o
petista, ainda estão por vir.
Tudo bem que seu antecessor tenha
realmente parte da responsabilidade
pelo que aí está. Afinal, Lula está
completando apenas seu quinto mês
como mandatário do país.
Mas esse discurso de ficar se eximindo de tudo o que acontece à sua
volta começa a cansar. Dizer que juros altos, crise no campo, falta de regras são heranças de FHC não resolve
em nada a triste situação do país.
Pode até funcionar para evitar queda de popularidade. Mas não faz a
economia crescer, não reduz o conflito no campo nem dá segurança ao
empresário, nacional ou estrangeiro,
que deseja investir no país.
No caso dos juros altos, o discurso
da "herança maldita" pelo menos é
uma reação às críticas ao rumo adotado. Bem ou mal, uma política econômica está sendo aplicada.
Por sinal, melhor defesa do que Lula fez o ministro Antonio Palocci.
Usou seus conhecimentos médicos
para defender sua política econômica, alegando que não dá para interromper o tratamento ao menor sinal
de melhora do paciente.
O risco é exagerar na dosagem da
medicação. Um país doente pode não
suportar o tratamento caso nada seja
feito para aumentar a resistência do
organismo. Aí, muito tem sido prometido, mas pouco saiu do papel.
Pior ainda é quando o governo petista diz que a crise no campo tem
origem na política agrária de FHC,
mas se mostra paralisado no setor.
Enquanto isso, recrudesce o clima de
tensão na área rural.
Ou quando ataca as regras deixadas por FHC nos setores de telecomunicações e energia, diz que vai mudar
tudo, mas não procura aplicar rapidamente a sua política. Resultado: o
investimento externo despencou.
Ninguém investe num país sem saber
como seu capital será tratado.
Em outras palavras, o discurso pode ser bom, mas não enche barriga.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Calote com outro nome Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tarde de maio Índice
|