São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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SÉRGIO MALBERGIER

Abu Ghraib é aqui

SÃO PAULO - Deu na Anistia Internacional, a respeitada organização de defesa dos direitos humanos sediada em Londres: as torturas generalizadas nas delegacias e prisões do Brasil são comparáveis às praticadas mundo afora na chamada "guerra ao terror" dos EUA, tão criticada pelo governo brasileiro.
Eu acho que as torturas aqui são piores. São brasileiros torturando brasileiros na nossa também falida "guerra ao crime", sem que nenhuma autoridade mova uma pedra para efetivamente mudar a situação, sem que a sociedade civil mostre horror diante do conhecido fato, sem que o Congresso brasileiro, como ocorre com o dos EUA, investigue a fundo o flagelo de pardos, pretos e pobres em nossas jaulas. Mesmo o massacre de 111 detentos no Carandiru, em 1992, passou impune. Ninguém até hoje cumpriu pena pelas mortes. E o coronel que comandou a operação elegeu-se deputado por São Paulo.
Pela sua total inoperância no plano interno, o governo Lula projeta na sua política externa todo o seu mofado esquerdismo ideológico, amparado na razoável eficiência do Itamaraty. Assim, apega-se à sanguinária figura de Fidel, chancela a política de direitos humanos da China e vê nos EUA um inimigo político, apesar de o país do norte ser o maior comprador de nossos produtos e um dos maiores investidores em nosso país.
Minha sugestão é que o melhor que a esquerda ainda tem a oferecer desde a queda do Muro de Berlim, seu humanismo, seja antes de tudo aplicado aqui mesmo no Brasil.
E que Frei Betto, como assessor especial do presidente Lula, que no domingo escreveu artigo nesta Folha denunciando as torturas praticadas por soldados americanos contra iraquianos na prisão de Abu Ghraib, visite a delegacia mais próxima e faça um outro artigo para denunciar os torturadores daqui. Talvez suas palavras tenham alguma repercussão.


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