São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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VALDO CRUZ

Crise, que crise?

BRASÍLIA - Converse com os principais líderes de oposição, aqueles menos incendiários e mais responsáveis, e perceberá que a avaliação quase unânime é que o governo Lula corre o risco de entrar numa crise política pós-eleição municipal.
O cenário traçado é que o PT vai sair derrotado do pleito municipal, principalmente nas capitais. Em seguida, fragilizado, pode perder o controle de pelo menos uma das Casas do Congresso.
PFL e PSDB, com a ajuda de uns desertores, devem lançar um candidato forte para presidir a Câmara ou o Senado. José Sarney e João Paulo Cunha se sentirão vingados.
Adicione-se a isso o fato de que, hoje, Câmara e Senado não estão votando nada de relevante. Talvez votem a Lei de Falências. E fica por aí. Em julho, teremos recesso. Durante as eleições, o Congresso vira uma verdadeira cidade fantasma.
Dentro do governo, a articulação política deveria chamar-se bateção de cabeça política. O ministro Aldo Rebelo quer se aproximar da oposição. José Dirceu planeja atacá-las.
Um ambiente nada favorável à economia, que deve continuar passando por uma zona de turbulência durante todo o período eleitoral.
Os mais pessimistas apostam que o pior nos aguarda após a eleição. Aí, Lula teria dois caminhos para escapar da crise: mudar completamente sua equipe e buscar na oposição alguns aliados de peso ou dar uma guinada na política econômica.
Converse com membros da cúpula do governo e dirão que tudo não passa de visão alarmista da oposição -o país está crescendo, o desemprego vai cair, a Marta Suplicy vai ganhar em São Paulo etc. etc.
É bom não esquecer, também, que Lula tem o poder da caneta. Um carguinho aqui, uma verbinha ali, e a crise pode se desmanchar. No máximo, fica mais fisiológico.
Quem tem razão? Veremos após a eleição. Que tal Lula não pagar para ver e se mexer um pouco? Enxergar a crise atual é o primeiro passo.


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