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CLAUDIA ANTUNES
ONGs.gov
RIO DE JANEIRO - Que FHC e Bill Clinton tenham virado ONGs, como
constatou jocosamente o ex-presidente americano na inauguração do
Instituto Fernando Henrique Cardoso, é mais uma prova da fascinante
capacidade antropofágica do capitalismo, que digere e inverte a seu favor
tudo o que parece ser-lhe hostil. Foi
assim com a imagem de Che Guevara
e com o movimento verde e é assim
agora com as organizações não-governamentais.
Fruto da contracultura dos anos 60,
as ONGs proliferaram nas duas últimas décadas, período de desregulamentação do sistema econômico
mundial e de redução da autonomia
das nações, especialmente as mais
fracas. Consagrou-se a expressão terceiro setor, que inclui também fundações e instituições filantrópicas.
Saudadas como expressão da resistência e da solidariedade da sociedade civil, as ONGs passaram a assumir
tarefas que antes eram dos governos,
mas se tornaram cada vez mais dependentes de verbas oficiais. Como
aponta a paquistanesa Humeira Iqtidar, em texto para o Fórum Social
Mundial, o ativismo político diminuiu e cada grupo passou a cuidar de
suas mulheres oprimidas, de suas
crianças de rua e de suas florestas como se essas causas, todas muito justas, fossem isoladas do mundo.
No Brasil, os anos 90 foram um
marco da terceirização das atividades do Estado sem que mecanismos
eficientes de avaliação dos resultados
das tarefas delegadas tenham sido estabelecidos. O caso da Ágora, ONG
premiada de um amigo de Lula que
recebeu dinheiro de vários governos e
acaba de ser flagrada com notas frias,
parece apenas a borda de uma cratera pouco explorada.
Iqtidar cita o professor David Hulme, da Universidade de Manchester,
organizador de três livros sobre a explosão das ONGs e a necessidade de
maior transparência em suas ações.
Num deles, Hulme questiona se parte
das organizações não-governamentais, depois de perder sua independência, não estaria mais perto dos
poderosos do que dos despossuídos .
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