São Paulo, quarta, 27 de maio de 1998

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FHC e Garrincha

VALDO CRUZ

Brasília - A equipe econômica não tem a menor idéia de quanto será o rombo das contas públicas neste ano. Até agora, sabe apenas que ele ficará acima do registrado em 97, quando o déficit atingiu 6,12% do PIB (Produto Interno Bruto).
O pior é que a equipe de Fernando Henrique Cardoso também não sabe o que pode ser feito no curto prazo para reduzir o estrago. Alguns assessores do ministro Pedro Malan (Fazenda) chegam a avaliar que, no momento, não há nada a fazer.
E, mesmo que algum gênio da área econômica descubra algo novo a ser feito, o Palácio do Planalto não quer nem ouvir falar em pacote fiscal. Seria um fracasso politicamente.
Novas medidas de contenção de gastos e aumento de receita representariam mais recessão, mais desemprego e, com certeza, menos votos para Fernando Henrique Cardoso.
Isso poderia abalar a candidatura FHC. Afinal, os aliados de Fernando Henrique apostam na recuperação de sua popularidade, que anda em queda, a partir do próximo mês.
Um pacote fiscal teria exatamente um efeito contrário, dando fôlego à candidatura petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo alguns tucanos, o melhor é esperar o resultado das eleições e, então, baixar um pacote fiscal para equilibrar as contas públicas.
O ex-ministro Mailson da Nóbrega não acredita que FHC aprove um pacote pós-eleição. "O sentimento de traição, no estilo Cruzado, seria muito forte. Não creio que façam isso."
Restaria, então, esperar o ano que vem. É o que defendem alguns aliados de FHC. O governo lançaria em 99 a segunda geração de reformas constitucionais, que acabaria de vez com o déficit público.
Faz parte dessa estratégia aprovar neste ano uma constituinte restrita, que permitiria promover mudanças na Constituição com quórum mais baixo e votações mais rápidas.
Em ano de Copa do Mundo, não custa nada lembrar aos governistas aquela história famosa do Garrincha: alguém combinou com os adversários? Caso contrário, o melhor é rezar.



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