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CENAS DO CRIME
Uma senhora de 80 anos, munida de uma câmera de vídeo,
grava da janela de seu apartamento
uma série de imagens de traficantes
atuando a céu aberto. O fato poderia
ter ocorrido em muitas cidades brasileiras, mas se deu no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. As cenas incluem desde marginais desfilando acintosamente com armas pesadas até crianças consumindo entorpecentes ali mesmo, na rua.
Entregues às autoridades, as fitas
gravadas ao longo de dois dois anos
deram origem a uma operação que,
até agora, teve como saldo a prisão
22 pessoas. Nada menos do que nove
policiais -quase a metade do total
dos presos- foram encarcerados e
serão submetidos a inquérito.
Em que pesem os resultados da
ação e a evidente nobreza e coragem
da cidadã, seria preciso uma ingenuidade sem limites para crer que
ninguém em toda força policial do
Rio soubesse das atividades que o
narcotráfico exerce com tanta desenvoltura naquela área da cidade. É impossível crer que a polícia só tenha
tomado conhecimento dos fatos devido à iniciativa da corajosa e indignada octogenária.
Não é nem mesmo apropriado dizer que episódios como esse revelam
a realidade do tráfico. Essa já é bastante conhecida pela sociedade brasileira e, sobretudo, pelos policiais.
Talvez o mais apropriado seja ver no
caso um misto de descaso e de colaboração entre maus policiais e o narcotráfico. De fato, beira o grotesco
que uma autoridade de segurança tenha vindo agradecer à senhora como
se ela tivesse realizado algo que a polícia procurava, mas não encontrava
meios de fazer.
Nada mais simples do que um
agente lançar mão de uma câmera,
ocultar-se e registrar cenas do tráfico. Quando uma aposentada de 80
anos mostra-se mais eficiente do que
policiais na identificação de traficantes, parece haver algo de errado no
combate ao crime.
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