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CLÓVIS ROSSI
Alguma coisa x o mesmo
SÃO PAULO - Eis que Fernando Henrique Cardoso vem em defesa de Luiz
Inácio Lula da Silva justamente
quando, salvo alguns "lulistas" que
praticam o culto à personalidade,
ninguém agüenta mais a discurseira
vazia e caótica do presidente.
Ao atacar Lula, FHC justifica Lula.
Contradição? Vejamos. Diz o ex-presidente que "é impossível ter havido
tanta coisa equivocada e ninguém ter
percebido. Será que o presidente Lula
nunca viu nada? Se o sujeito nunca
viu nada, como pode chegar a ser
presidente?" (em entrevista de quarta-feira à rádio CBN).
Ora, quando perguntado sobre seu
próprio "mensalão", tão comprovado
quanto o do atual governo, FHC sai
pela tangente: não foi ele que pagou
(nem Lula) e não sabe quem foi. Como pode, então, ter sido presidente?
Foi, e por oito anos, o que, se esse é o
parâmetro, dá direito a Lula de ter a
mesma coisa.
Tem mais: FHC reclama que, "neste momento, estamos patinando".
Não é bem assim: "estamos patinando" há dez anos e meio, principalmente nos oito anos do tucanato. É só
procurar as estatísticas para verificar
que o crescimento econômico nos nove primeiros trimestres com Lula (os
únicos até agora medidos) foi medíocre, mas ainda assim foi superior ao
de FHC no mesmo período.
Não justifica o governo Lula, mas
muito menos ainda dá lustro póstumo ao governo anterior.
Bom, aí FHC vem com a história de
que o PSDB precisa ter "capacidade
de propor alguma coisa para o país".
Como alguma coisa? Se isso é tudo o
que tem a oferecer um notável sociólogo, com oito anos de Presidência e
uma penca deles no Senado, então
estamos ferrados.
Recuso-me a crer que o Brasil esteja
condenado, nas eleições do ano que
vem, a escolher entre "alguma coisa"
e "mais do mesmo".
Seria de inaudita crueldade com
uma população cansada de ver brotar a esperança a cada tanto apenas
para derrapar na primeira curva pela mediocridade e/ou pela lama.
@ - crossi@uol.com.br
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