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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Brasil deveria adotar uma
nova política econômica?
NÃO
O canto do cisne
ROBERTO LUIS TROSTER
A expressão usada como título se
refere ao fato de que o cisne executa seu canto mais lindo ao pressentir a
morte. Em sua demorada agonia, o neopopulismo tupiniquim está cantando
seu discurso mais sedutor ao propor
mudanças na política econômica. Mas
anuncia o fim de uma escola de pensamento que não convence mais.
O populismo é o responsável pelo desempenho econômico pífio das últimas
décadas no Brasil e em alguns de seus
vizinhos. A experiência acumulada
mostra que sua aplicação produz bolhas
de crescimento seguidas de recessões,
concentração de renda, arrochos,
confiscos e moratórias, encurtando horizontes. Tem cada vez menos seguidores aqui e quase nenhum no resto do
planeta.
Seu herdeiro, o neopopulismo critica
a atual política econômica de forma incompleta e confusa e propõe três medidas como alternativa: a) uma desvalorização do real; b) um aumento nos gastos do governo; e c) um abrandamento
do regime de metas de inflação. Medidas que propiciariam o desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma falácia,
pois, se aplicada, seu resultado seria desastroso.
É incontroverso que um estímulo às
exportações pela desvalorização da
moeda diminui o salário real. O fomento ao comércio exterior tem que ser dado por meio de ganhos de produtividade, de uma inserção externa adequada e
de melhoria da infra-estrutura, e não do
empobrecimento dos trabalhadores,
como proposto.
A segunda sugestão, de aumento de
gastos, sem explicitar seu financiamento, é irresponsável. Em um contexto de
superávit fiscal, como nas décadas de
1950 e 1970, um aumento de gastos acelera o crescimento. Entretanto, em uma
situação como a atual, em que há um
déficit, mais gastos promovem bolhas
de expansão localizadas e pressionam
os juros e o aumento de impostos. Uma
insensatez.
A terceira medida, de abrandar o
comprometimento com a meta de inflação, serve para concentrar mais a riqueza e manter as taxas de juros elevadas,
algo que só interessa àqueles que vivem
de aplicações financeiras. A inflação
transfere renda dos mais pobres para os
mais ricos e exige taxas de juros proporcionalmente maiores para ser estabilizada. Deve ser debelada.
É fato que os países com menos inflação crescem mais e têm juros reais menores. Uma política monetária comprometida com as metas é um remédio
amargo que deve ser tomado por pouco
tempo e apenas porque permite juros
reais baixos por muito tempo no futuro.
O ponto é que a inconseqüência do
neopopulismo faz com que suas propostas tenham pouco eco. É notório seu
fracasso. Vivemos outros tempos, nos
quais a racionalidade predomina. A sociedade entende que a economia é regida pela lógica, restrições, equações,
oferta e demanda, que não se submetem
a discursos inflamados sem substância.
A política adotada pelo governo tem
falhas que devem ser corrigidas, mas está mostrando bons resultados. A taxa de
crescimento do PIB será a maior dos últimos quatro governos, a economia está
mais blindada em relação aos efeitos de
crises e os horizontes do país estão se
alargando. Mais importante é que as
perspectivas estão melhorando. Podemos e devemos ambicionar mais para
os anos seguintes.
Em vez de ser mudada, a política adotada deve ser aprofundada: abolindo
mordomias, coibindo abusos, acabando com a corrupção, eliminando privilégios imorais, investindo apenas nos
gargalos da infra-estrutura, expandindo
a educação, melhorando o quadro regulatório, adotando políticas setoriais adequadas, diminuindo a inflação etc.
Basta olhar a experiência de outros
países para ver que é uma fórmula que
funciona. Um crescimento sustentado a
taxas elevadas exige uma estratégia que
esteja fundamentada em premissas sólidas e apresente coerência para que a
economia brasileira retome níveis de
crescimento compatíveis com seu potencial. Atalhos inconseqüentes devem
ser evitados.
Somente uma retomada consistente e
balanceada do crescimento viabilizará
uma redução duradoura da pobreza e
um aumento de oportunidades para todos os brasileiros.
Roberto Luis Troster, 54, é economista-chefe
da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) e
professor titular da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
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