São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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REPROVAÇÃO RECORDE

A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil registrou um novo recorde: só 19% dos 14.221 bacharéis em direito que se submeteram ao exame para obter o título de advogado em abril foram aprovados. É o pior desempenho desde 1973, quando a prova foi instituída.
Alguém poderia sustentar que o teste de abril foi especialmente difícil. O argumento não procede. A mesma prova foi aplicada no mesmo dia aos bacharéis do Espírito Santo e o índice de aprovação foi de 37%.
A melhor explicação para o fenômeno é a baixa qualidade de muitos dos cursos de direito. As chamadas arapucas, que cobram muito do aluno para ensinar-lhe pouco, existem em todo o país, mas é em São Paulo que proliferam com maior intensidade. Essa tese é corroborada pela constatação de que universidades de elite, como a USP e a PUC, obtiveram taxas de aprovação bem razoáveis, de 87% e 74%, respectivamente.
Seria injusto atribuir toda a culpa da deficiência dos alunos às faculdades de última linha. Elas são de última linha, entre várias outras razões, porque aceitam os piores alunos, desde que eles tenham dinheiro para pagar as mensalidades. A cadeia de falhas que permite que estudantes com baixo desempenho acadêmico cheguem a formar-se num curso superior evidentemente começa bem antes da faculdade. Ela tem início no ensino fundamental e é especialmente grave no médio.
De todo modo, deixar que arapucas sigam surgindo e operando no mercado constitui, no mínimo, uma falta de respeito para com os alunos mal formados. Eles estão comprando a ilusão de que se tornarão "doutores". Na verdade, pagarão caro por um curso que, em muitos casos, nem vai ser capaz de habilitá-los para exercer a advocacia.
Vale lembrar que existem outras carreiras de vital interesse público, como a medicina, que não contam com filtros qualitativos como o exame da OAB. Nelas, o profissional despreparado é despejado diretamente no mercado. E azar do cidadão que cai na mãos de um deles.


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