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REPROVAÇÃO RECORDE
A seção paulista da Ordem dos
Advogados do Brasil registrou
um novo recorde: só 19% dos 14.221
bacharéis em direito que se submeteram ao exame para obter o título de
advogado em abril foram aprovados.
É o pior desempenho desde 1973,
quando a prova foi instituída.
Alguém poderia sustentar que o
teste de abril foi especialmente difícil. O argumento não procede. A
mesma prova foi aplicada no mesmo
dia aos bacharéis do Espírito Santo e
o índice de aprovação foi de 37%.
A melhor explicação para o fenômeno é a baixa qualidade de muitos
dos cursos de direito. As chamadas
arapucas, que cobram muito do aluno para ensinar-lhe pouco, existem
em todo o país, mas é em São Paulo
que proliferam com maior intensidade. Essa tese é corroborada pela
constatação de que universidades de
elite, como a USP e a PUC, obtiveram
taxas de aprovação bem razoáveis, de
87% e 74%, respectivamente.
Seria injusto atribuir toda a culpa
da deficiência dos alunos às faculdades de última linha. Elas são de última linha, entre várias outras razões,
porque aceitam os piores alunos,
desde que eles tenham dinheiro para
pagar as mensalidades. A cadeia de
falhas que permite que estudantes
com baixo desempenho acadêmico
cheguem a formar-se num curso superior evidentemente começa bem
antes da faculdade. Ela tem início no
ensino fundamental e é especialmente grave no médio.
De todo modo, deixar que arapucas
sigam surgindo e operando no mercado constitui, no mínimo, uma falta de respeito para com os alunos
mal formados. Eles estão comprando a ilusão de que se tornarão "doutores". Na verdade, pagarão caro por
um curso que, em muitos casos,
nem vai ser capaz de habilitá-los para
exercer a advocacia.
Vale lembrar que existem outras
carreiras de vital interesse público,
como a medicina, que não contam
com filtros qualitativos como o exame da OAB. Nelas, o profissional
despreparado é despejado diretamente no mercado. E azar do cidadão que cai na mãos de um deles.
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