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MARCELO BERABA
Dinheiro sujo e esqueletos
RIO DE JANEIRO - A maioria dos escândalos de corrupção no Brasil nas
duas últimas décadas tem a ver, em
algum momento, com as campanhas
eleitorais. Daí a importância da reportagem "O buraco negro das campanhas", de Frederico Vasconcelos,
publicada ontem na Folha, A acumulação do dinheiro sujo começa
bem antes, com a apropriação dos recursos públicos por meio das fraudes
nas licitações, da cobrança de propina no pagamento de dívidas com fornecedores, na manipulação dos investimentos financeiros, no superfaturamento das obras e na aquisição
de mercadorias pelo Estado.
Durante a campanha, as ajudas ilegais selam compromissos que serão
cobrados no exercício do mandato
executivo ou legislativo. A lei eleitoral, embora tenha nítida intenção de
coibir o problema, continua ineficaz.
Financiadores e financiados se superam em ousadia e em criatividade.
A imprensa raramente é capaz de
flagrar o momento do crime. O que
tem feito é revelar evidências de fraudes tempos depois. Sua grande contribuição para eleições mais limpas
foi o recém-lançado Projeto Controle
Público, que criou um banco de dados que vai permitir comparar a evolução patrimonial de todos os políticos em atividade.
Juan Arias, correspondente do jornal espanhol "El País", escreveu recentemente um artigo em que questionava por que a corrupção sumira
do debate eleitoral? Ele mesmo respondia: "Será que a corrupção não
existe no Brasil? Ou será que todos os
partidos têm os seus esqueletos próprios escondidos e estão com medo de
abrir as portas de seus armários?".
A indagação é pertinente. A Transparência Brasil, entidade criada para
o combate à corrupção, solicitou a todos os presidenciáveis, em agosto,
que assinassem um termo em que se
comprometiam a implementar mecanismos eficazes anticorrupção. Até
agora, apenas um candidato assinou.
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