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CLÓVIS ROSSI
A volta do bem e do mal
MIAMI - Trocar a disputa Marta x Serra pelo confronto Bush x Kerry dá
a estranha sensação de estar mergulhando em um assunto de maior interesse para o brasileiro, exceto, claro, para os paulistanos.
Mesmo assim, a eleição deste ano
em São Paulo parece mobilizar menos do que pleitos anteriores -pelo
menos se o critério de julgamento for
o número de adesivos nos automóveis. São poucos, quase inexistentes.
Não que não haja paixão, mas ela
parece contida no território dos militantes e interessados diretos de lado a
lado. Não muito mais que isso.
Já a eleição norte-americana deste
ano parece ter mobilizado o mundo
inteiro. É sintomático que tenha sido
feita pesquisa para saber em quem
votariam cidadãos de um punhado
de outros países se tivessem o direito
de fazê-lo.
Não consta que tenham sido consultados pernambucanos, baianos,
gaúchos, potiguares etc. para saber se
votariam em Marta ou em Serra.
Não, não estou desmerecendo a eleição paulistana. Apenas constato que,
ao peso incomensurável dos Estados
Unidos no mundo, somou-se neste
ano a sensação -verdadeira ou falsa é o que ainda está por se ver- de
que estão em jogo duas visões de
mundo tão contrapostas que o resultado é, sim, relevante. Coisa rara hoje
em dia.
Na maior parte das eleições desde
que o Muro de Berlim caiu sobre a esquerda, a corrida para o centro tornou-se tão desordenada que as únicas diferenças entre os candidatos, na
maioria dos casos, acabam sendo de
personalidade, não de visões de mundo, país ou cidade.
O paradoxal é que os Estados Unidos é que inventaram a indiferenciação ideológica. Nunca houve uma esquerda de verdade -a ponto de "liberal" ser o apelido que eles dão aos
políticos mais à esquerda. Republicanos e democratas diferenciavam-se
apenas em matizes quase imperceptíveis a olho nu e à distância. Agora,
parecem reinventar as épicas batalhas entre o bem e o mal, e o mundo
inteiro é convidado a dizer quem é do
bem e quem é do mal.
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