São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Quem fiscaliza os fiscais?

RIO DE JANEIRO - A hipocrisia é condenada por todos, mas é nela que se baseia a sociedade humana, da qual todos são defensores, menos eu, que de mau grado pertenço a ela. A consideração pode parecer rabugenta, e o é, de fato. Mas como reagir à inspeção nuclear que uma comissão veio fazer no Brasil para ter certeza de que não estamos produzindo uma bomba atômica?
Comissão equivalente passou um tempão no Iraque com o mesmo objetivo: fiscalizar a produção de armas de destruição em massa. Nem por isso deixaram de destruir o Iraque massivamente.
Há tratados internacionais regulamentando a produção nuclear. Todos fingem acreditar neles, mas todos sabem que, mais dia menos dia, quem tiver competência fabricará sua ogivazinha.
Foi o caso de Israel, da Índia, do Paquistão, da Coréia e, mais cedo ou mais tarde, da Alemanha e de outros países, inclusive a Argentina e, por que não?, o Brasil.
Digamos que a comissão internacional exerça um papel preventivo para evitar uma crise que dará a cada país o poder de destruir a civilização. Mas esse poder já é detido por vários países que continuam pesquisando armas letais, mais apocalípticas do que o arsenal de que dispõem.
Quem fiscaliza os Estados Unidos, a Rússia e a China, que já pertencem ao clube atômico e trabalham sigilosamente para adquirirem armas que garantam uma hegemonia incontestável no caso de um conflito real entre as potências que já possuem armas nucleares?
Em 1945, com a explosão em Hiroshima, os Estados Unidos ficaram com a régua e o compasso para ditar sua vontade ao mundo. Mas por pouco tempo. Logo a União Soviética e mais tarde outros países dominaram a mesma tecnologia e ficaram empatados na mesa das negociações.
Para desempatar, cada um desses países continua investindo feio e forte na produção de uma nova arma que tornará obsoleto o arsenal nuclear de hoje. E quem fiscaliza os fiscais?


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