São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Bom senso sob suspeita

SÃO PAULO - Em tese, nada faz mais sentido do que impor a regra de que as coligações nos Estados não podem ser diferentes das formadas para o pleito nacional.
Sempre em tese, se o partido "x" é compatível com o "y" no plano nacional, não pode ser incompatível com ele em São Paulo ou no Acre, no Paraná ou no Maranhão.
Todo o mundo sabe que as diferenças entre seções regionais de um mesmo partido raramente têm a ver com ideologia, programa etc. Quase sempre dizem respeito exclusivamente a espaço político.
Na teoria, portanto, tudo muito bom, tudo muito bem com a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de impor tal regra.
É claro que a limpeza do anárquico sistema partidário-eleitoral brasileiro não se fará apenas por meio de uma súbita penada de um tribunal. Mas esse é um argumento frágil: os tribunais servem exatamente para fixar regras -de preferência, sensatas. Se elas "pegam" ou não é menos culpa dos tribunais superiores do que da cultura política.
O outro argumento crítico (não se mudam as regras no meio de um jogo) faz mais sentido, mas não todo o sentido. Afinal, o TSE não decidiu porque resolveu decidir ou porque o governo o pressionou. Decidiu porque foi chamado a fazê-lo por uma consulta da oposição (PDT).
Se se omitisse, aí sim estaria cometendo um pecado mortal. E, se decidisse o contrário, estaria violentando o bom senso.
Na prática, de todo modo, ficará a suspeita de que a decisão do TSE foi tomada apenas para beneficiar a candidatura de José Serra (PSDB). Afinal, o presidente do Tribunal é Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça do governo do qual Serra é o candidato preferido.
Mas, para provar quem ganha o que na prática, será preciso montar todo o quebra-cabeça das eleições nos 26 Estados e no DF compará-lo com as perspectivas de coligações para a Presidência. A conferir.


Texto Anterior: Editoriais: NOVO TROPEÇO

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Primeiras impressões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.