São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Primeiras impressões

BRASÍLIA - As atenções deixaram de estar com todos os candidatos para se concentrar num partido, o PMDB, e num candidato, Garotinho (PSB).
O PMDB já era mesmo o mais apetitoso, porque tem o maior tempo na televisão, ramificações no país inteiro, um número razoável de governos estaduais e boas bancadas.
Agora, está com a faca e o queijo na mão. O grande trunfo do PT, do PSDB e do PFL é ter um candidato competitivo à Presidência. O do PMDB é justamente o oposto: é não ter candidato nenhum para valer.
Explica-se: o TSE decidiu "verticalizar as coligações" (ou seja, impedir que os candidatos nos Estados acertem chapas diferentes da presidencial). Se o PMDB lançar Itamar Franco, por exemplo, seus candidatos a governos e ao Senado não poderão se coligar com nenhum outro partido que tenha candidato próprio.
Assim, o que o PMDB tem de melhor a fazer é cruzar os braços, ficar sem candidato e soltar a boiada. Sem estar coligado a nenhum outro partido e sem lançar candidato próprio, o partido poderá formalmente e sem subterfúgios cair nos braços de quem quiser nos Estados.
Roseana Sarney, Lula e Anthony Garotinho correm o sério risco de ficarem sozinhos. Roseana ainda se segura com o PFL, um partido nacional. Lula também. E com o acréscimo da militância. Mas, para Garotinho, a situação pode ficar feia. O PSB não tem tempo na TV, nem estrutura partidária, nem lastro nos Estados.
E José Serra? Como a história está cheia de amigos dele e ninguém dá ponto sem nó, tudo indica que a "verticalização" foi feita para o candidato tucano. Mais uma vez, porém, depende dele. Se crescer muito devagar nas pesquisas, poderá ficar também sozinho com o PSDB. Se crescer celeremente, aí, sim, poderá atrair o PMDB e outros tantos, num rolo compressor pelos Estados afora.
Acho que é justamente isso que esperam os mentores e executores do "plano". Mas é bom lembrar que, em política, como na vida, esperteza demais às vezes come o dono.


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