São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002

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MÁRIO MAGALHÃES

A diáspora dos Rabêlo

RIO DE JANEIRO - Mais longo ciclo ditatorial do Brasil republicano, o regime militar (1964-85) conserva lacunas abissais em sua história 17 anos depois do seu fim.
Um dos capítulos com mais vácuos é o da trajetória dos exilados até a Anistia de 1979. Há tantas indagações quanto certezas, por exemplo, sobre os percursos de Leonel Brizola e de Miguel Arraes, dois oposicionistas.
O casal José Maria e Thereza Rabêlo acaba de prestar um serviço à memória do país com o livro ""Diáspora - Os longos caminhos do exílio" (Geração Editorial). Com balanços incômodos para protagonistas das derrotas daqueles dias, os autores revisitam os golpes militares que os levaram a partir três vezes -do Brasil (64), da Bolívia (65) e do Chile (73).
Nas melhores passagens, o relato remete ao que se convencionou chamar de história do cotidiano. Os Rabêlo se habituaram às perguntas sobre o seu dia-a-dia de então. Agora, eles contam, no papel.
O jornalista José Maria Rabêlo selou sua sorte em 1961 ao receber com dois socos o general que fora empastelar o legendário periódico mineiro ""Binômio". Em 1964, exilou-se na Bolívia, deixando no Brasil a mulher e os sete filhos até arrumar trabalho. Tinha 36 anos de idade.
Em La Paz, montou com outros exilados uma república batizada de ""Solar de los Pepitos [Zezinhos, em castelhano"", porque três moradores se chamavam José. O sobrenome de um deles era Serra.
Mal Thereza chegou, o golpe os fez partir rumo ao Chile. Novamente reunida, a família montou uma bem-sucedida rede de livrarias -alvo de atentados a bomba. Perdeu tudo em 1973. O filho mais velho, de 17 anos, foi preso. José Maria asilou-se com outras 355 pessoas numa embaixada de 150 metros quadrados.
Na França, para onde escaparam os nove, os Rabêlo montaram uma livraria por onde peregrinaram desterrados de todo o mundo. Voltaram para o Brasil no fim de 1979.
Sua saga, como escreve Fernando Morais no prefácio do livro, é um roteiro pronto para filmar.


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