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MÁRIO MAGALHÃES
A diáspora dos Rabêlo
RIO DE JANEIRO - Mais longo ciclo ditatorial do Brasil republicano, o regime militar (1964-85) conserva lacunas abissais em sua história 17 anos
depois do seu fim.
Um dos capítulos com mais vácuos
é o da trajetória dos exilados até a
Anistia de 1979. Há tantas indagações quanto certezas, por exemplo,
sobre os percursos de Leonel Brizola e
de Miguel Arraes, dois oposicionistas.
O casal José Maria e Thereza Rabêlo acaba de prestar um serviço à memória do país com o livro ""Diáspora -
Os longos caminhos do exílio" (Geração Editorial). Com balanços incômodos para protagonistas das derrotas daqueles dias, os autores revisitam os golpes militares que os levaram a partir três vezes -do Brasil
(64), da Bolívia (65) e do Chile (73).
Nas melhores passagens, o relato
remete ao que se convencionou chamar de história do cotidiano. Os Rabêlo se habituaram às perguntas sobre o seu dia-a-dia de então. Agora,
eles contam, no papel.
O jornalista José Maria Rabêlo selou sua sorte em 1961 ao receber com
dois socos o general que fora empastelar o legendário periódico mineiro
""Binômio". Em 1964, exilou-se na
Bolívia, deixando no Brasil a mulher
e os sete filhos até arrumar trabalho.
Tinha 36 anos de idade.
Em La Paz, montou com outros exilados uma república batizada de
""Solar de los Pepitos [Zezinhos, em
castelhano"", porque três moradores
se chamavam José. O sobrenome de
um deles era Serra.
Mal Thereza chegou, o golpe os fez
partir rumo ao Chile. Novamente
reunida, a família montou uma
bem-sucedida rede de livrarias -alvo de atentados a bomba. Perdeu tudo em 1973. O filho mais velho, de 17
anos, foi preso. José Maria asilou-se
com outras 355 pessoas numa embaixada de 150 metros quadrados.
Na França, para onde escaparam
os nove, os Rabêlo montaram uma livraria por onde peregrinaram desterrados de todo o mundo. Voltaram
para o Brasil no fim de 1979.
Sua saga, como escreve Fernando
Morais no prefácio do livro, é um roteiro pronto para filmar.
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