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O complexo de Masada
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Masada é uma fortaleza
no topo de uma montanha no deserto
da Judéia (Israel). Lá, no ano 66, um
grupo de cerca de mil judeus entrincheirou-se para resistir aos romanos.
A resistência durou sete anos, até
que, sob o cerco de 15 mil soldados de
Roma, todos os judeus se mataram,
exceto duas mulheres e cinco crianças.
Hoje, os recrutas das unidades blindadas de Israel prestam juramento
exatamente em Masada, ao grito de
"Masada jamais cairá de novo".
Judeus mais críticos cunharam uma
expressão baseada na fortaleza para
definir o que consideram o estado de
espírito de seus compatriotas que se
sentem permanentemente assediados
pelo inimigo: "Complexo de Masada".
Foi essa expressão que me veio à cabeça ao receber, na quinta-feira, um
telefonema do ministro Paulo Renato
(Educação), para queixar-se da coluna publicada naquele dia, criticando
os cortes nos programas sociais.
Não pela queixa em si. Faz parte do
jogo que governantes reclamem do
jornalismo. E, quando não reclamam,
em geral não é porque estejam fazendo a coisa certa, mas porque o jornalismo é que está errando em algo.
A idéia de que o governo sente-se em
uma Masada tropical, cercado por inimigos de todos os lados, veio da seguinte frase do ministro: "A imprensa
está tendo orgasmos com a crise".
Não é bem assim. Jornalistas não
gostam, por exemplo, de acidentes de
avião. Mas acidentes de avião ocorrem, e os jornais noticiam, sem ter orgasmos por isso, salvo um ou outro tarado que sempre existe.
O que houve no Brasil foi um desastre cambial, não aviatório. A mídia
está registrando (ou ao menos tentando) todos os desdobramentos do desastre. Nada mais. Não há, pois, motivo para ter "complexo de Masada", até
porque os judeus foram vencidos pela
pura força do inimigo, ao passo que o
governo chegou ao desastre por pura
teimosia, incompetência, erro de cálculo ou seja o lá que for.
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