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DIREITO AO PASSADO
Quem já entrou no British Museum, em Londres, no Louvre,
em Paris, no Museu Egípcio ou no
Pergamon, ambos em Berlim, teve a
feliz oportunidade de fruir algo de
antigas civilizações. As coleções dessas instituições e de outras similares
são tão formidáveis que, por alguns
instantes, podem dar a impressão de
transportar o visitante para a Atenas
de Péricles ou o Egito dos faraós. Tudo isso seria excelente, se parte desses magníficos acervos não fosse fruto de pilhagem.
Tentando reaver o que é seu, um
grupo de aborígenes australianos
impediu que um conjunto de artefatos antigos da comunidade fosse restituído ao Museu Britânico, o qual
havia emprestado as peças ao Museu
Victoria, na Austrália. Os aborígenes
conseguiram uma ordem judicial para frustrar a devolução, o que reacendeu a polêmica em torno da propriedade de tesouros culturais e artísticos
que se encontram em posse das antigas metrópoles coloniais.
Não é de hoje que países herdeiros
de antigas civilizações reclamam
suas relíquias de volta. A Grécia, por
exemplo, reivindica a reintegração
dos mármores de Elgin, os 56 frisos e
19 estátuas do século 5º a.C. que
adornavam o Parthenon em Atenas
e, no início do século 19, foram levados pelo então embaixador britânico
no império Otomano, lorde Elgin. A
Grécia estava sob domínio turco. Para complicar mais a questão, alguns
tesouros já passaram a fazer parte do
patrimônio da sociedade que deles se
apossou. É o caso do diamante Koh-i-Noor, que pertenceu ao último marajá do Punjab, na Índia, mas hoje está encravado na coroa britânica.
A questão é por certo complexa,
mas, como princípio geral, as obras
deveriam ser restituídas. Embora potências coloniais costumem argumentar que as peças foram levadas
legalmente, convém lembrar que era
difícil para autoridades de alguns
países deixar de negociar sob a mira
dos canhões de Napoleão ou com a
esquadra imperial britânica fundeada ao largo de seu litoral.
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