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De Klerk e FHC
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Com a aposentadoria de
F.W. de Klerk, o líder político dos
brancos sul-africanos, perde-se um
dos últimos estadistas restantes em
um mundo marcado por políticos cinzentos, opacos.
Não é fácil tascar o rótulo de estadista em quem foi, durante boa parte de
sua vida pública, um expoente do
apartheid, o regime de segregação racial. Mas esse pecado mortal na biografia de de Klerk foi em grande medida purgado pela sua contribuição decisiva para sepultar o regime que sustentara.
A colaboração entre de Klerk e Nelson Mandela, outra personalidade
digna do rótulo de estadista, tornou
muito menos traumática a transição
para uma democracia multirracial na
África do Sul.
Os céticos (ou cínicos) dirão que de
Klerk agiu empurrado pelos acontecimentos: como o apartheid estava isolado internacionalmente e enfrentava
crescente e violenta oposição interna,
não lhe restava outro caminho que
não o de pregar os últimos pregos no
caixão da discriminação.
É uma maneira de ver as coisas que
faz até um certo sentido. Mas o custo,
em sangue e sofrimento, para brancos
e para negros, teria sido imensamente
maior se de Klerk não tivesse tido o
bom senso de reconhecer que a era da
hegemonia branca caducara.
É a capacidade de ter esse tipo de
percepção que transforma um dirigente político em um estadista.
De Klerk foi, no fundo, o que Fernando Henrique Cardoso poderia ter
sido e não está sendo. FHC parecia a
personalidade mais indicada para
iniciar um processo de encerramento
do apartheid social no Brasil.
Tarefa nada fácil, como é óbvio, e
que, por isso mesmo, exige capacidade
de liderança e indução, exige romper
com os beneficiários da segregação social, exige governar (e falar) para a
maioria todo santo dia e não para os
"brancos" do Brasil, no sentido social.
De Klerk também mandou esquecer
o que escrevera, mas no bom sentido.
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