São Paulo, quinta, 28 de agosto de 1997.



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De Klerk e FHC

CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Com a aposentadoria de F.W. de Klerk, o líder político dos brancos sul-africanos, perde-se um dos últimos estadistas restantes em um mundo marcado por políticos cinzentos, opacos.
Não é fácil tascar o rótulo de estadista em quem foi, durante boa parte de sua vida pública, um expoente do apartheid, o regime de segregação racial. Mas esse pecado mortal na biografia de de Klerk foi em grande medida purgado pela sua contribuição decisiva para sepultar o regime que sustentara.
A colaboração entre de Klerk e Nelson Mandela, outra personalidade digna do rótulo de estadista, tornou muito menos traumática a transição para uma democracia multirracial na África do Sul.
Os céticos (ou cínicos) dirão que de Klerk agiu empurrado pelos acontecimentos: como o apartheid estava isolado internacionalmente e enfrentava crescente e violenta oposição interna, não lhe restava outro caminho que não o de pregar os últimos pregos no caixão da discriminação.
É uma maneira de ver as coisas que faz até um certo sentido. Mas o custo, em sangue e sofrimento, para brancos e para negros, teria sido imensamente maior se de Klerk não tivesse tido o bom senso de reconhecer que a era da hegemonia branca caducara.
É a capacidade de ter esse tipo de percepção que transforma um dirigente político em um estadista.
De Klerk foi, no fundo, o que Fernando Henrique Cardoso poderia ter sido e não está sendo. FHC parecia a personalidade mais indicada para iniciar um processo de encerramento do apartheid social no Brasil.
Tarefa nada fácil, como é óbvio, e que, por isso mesmo, exige capacidade de liderança e indução, exige romper com os beneficiários da segregação social, exige governar (e falar) para a maioria todo santo dia e não para os "brancos" do Brasil, no sentido social.
De Klerk também mandou esquecer o que escrevera, mas no bom sentido.



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