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RUY CASTRO
Sandálias e minissaias
RIO DE JANEIRO - Meu amigo Carlos Eduardo Berriel, professor da
Unicamp e autor de "Tietê, Tejo, Sena", biografia de Paulo Prado que
me ensinou mais sobre a Semana
de Arte Moderna do que todos os
tratados juntos, escreveu protestando contra minha definição de
"Spartacus" (1960), sábado passado, como o "melhor filme bíblico de
sempre". Berriel não discute a qualidade do filme, mas o gênero.
"Chamar "Spartacus" de filme bíblico é sacanagem", diz ele. "É um
belo exemplar de filme comunista
americano ao velho estilo, anos
40/50. O roteiro é de Dalton Trumbo, cupincha de John Howard Lawson, ambos com a carteirinha do
Partidão em dia. As cenas de batalha são ótimas, o [diretor Stanley]
Kubrick aspirou com canudinho do
"Alexandre Nevsky", do Eisenstein
-sendo que o czar Alexandre
Nevsky aparecia como um avatar
do Stalin".
Concordo com Berriel. Como vários que passaram pelo Partido Comunista americano, Dalton Trumbo desafiou o mccarthysmo em
1950, recusando-se a dedar camaradas e, por isso, ficou dez anos impedido de trabalhar com seu nome
em Hollywood. A diferença é que,
ao contrário de Lawson e outros,
que eram apenas comunistas,
Trumbo tinha talento. Vide os roteiros de "A Princesa e o Plebeu"
(1953) e "Arenas Sangrentas"
(1956), que escreveu, mas não pôde
assinar, e que ganharam o Oscar
-que também não pôde receber.
Mas isso não alterou minha posição. Respondi que filme que tem
homem de sandália e de minissaia,
como "Spartacus", é filme bíblico.
"Além disso", completei, "o herói é
virgem e morre crucificado".
Em e-mail subsequente, Berriel
concordou. "Tem razão, é meio bíblico, sim. E, se o critério é esse, a
Cinecittà dos anos 60 vacilou em
não ter filmado "Os 12 Apóstolos
Gladiadores", com Rossana Podestà
no papel de Maria Madalena, e "Maciste contra Santo Agostinho'".
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